O dia em que o Facebook caiu (e todo o mundo foi afetado)
4 de outubro de 2021 foi um dia para pensar no impacto do Facebook nas nossas vidas: uma falha derrubou toda a família de aplicativos da empresa, incluindo o WhatsApp e o Instagram, que somam mais de 3 bilhões de usuários. Mas a empresa de Mark Zuckerberg é tão grande que a queda não afetou só um ou outro serviço que você ama odiar: a estrutura da internet (e do mundo) também foi abalada.
Após os primeiros relatos de queda, todos os serviços do Facebook estão fora do ar, o que ironicamente inclui a página status.fb.com, criada para informar quando há algum problema técnico na rede social. Para os principais serviços de DNS, como o Cloudflare, o Google e o OpenDNS, o domínio facebook.com simplesmente… deixou de existir.
A internet é uma rede, e isso tem consequências
Assim que o Facebook, o WhatsApp e o Instagram saíram do ar, por volta das 12h50 desta segunda-feira (4), o DownDetector identificou um pico de relatos de instabilidades em outros serviços, como o Telegram, o Gmail e as quatro maiores operadoras do Brasil, Claro, Oi, TIM e Vivo. O comportamento foi semelhante em outros países: AT&T, T-Mobile e Verizon, por exemplo, seguiram a mesma curva nos Estados Unidos. O que essas empresas têm a ver com o Facebook?
Algumas dependências são mais visíveis, como o botão de login via Facebook, que utiliza a tecnologia de autenticação da rede social: tem gente que não tinha nada a ver com o problema e ficou trancado para fora de um serviço de música ou aplicativo de delivery. Em uma das vezes que esse serviço essencial do Facebook falhou, até o Tinder parou de funcionar direito.
Outros serviços são afetados indiretamente: sempre que o WhatsApp cai, uma horda de usuários novos vai conhecer o Telegram, o que deixou o aplicativo de mensagens instável devido ao aumento repentino de tráfego. O mesmo aconteceu com o Twitter, cujo valor de mercado, US$ 46 bilhões, é menor que o montante da queda das ações do Facebook na bolsa de valores só hoje.
O problema da sobrecarga de DNS
Mas como explicar os relatos de quedas de operadoras? Uma parte, claro, se deve à atribuição errada de culpa: o WhatsApp é tão onipresente para tanta gente que, quando o aplicativo cai, parece que a internet simplesmente parou de funcionar. Mas o CTO do Cloudflare, John Graham-Cumming, mostra como toda a internet é afetada pela imensidão do Facebook:
“Agora, eis a parte divertida. O CloudFlare tem um resolvedor DNS gratuito, 1.1.1.1, e muitas pessoas o usam. Então, Facebook etc. caem… adivinha o que acontece? As pessoas continuam tentando. Softwares continuam tentando. Somos atingidos por uma grande inundação de tráfego DNS solicitando o facebook.com. E assim, o Facebook etc. estão fora do ar, e as equipes do CloudFlare têm que se virar para garantir que as coisas continuem funcionando bem durante a queda.”
Em outras palavras, a queda de um serviço do tamanho do Facebook gera um efeito em cascata por toda a internet. E, se o Cloudflare, uma empresa especializada em confiabilidade de rede, precisa suar para manter tudo funcionando durante a queda do Facebook, imagine o que acontece com o DNS da sua operadora, que muitas vezes cai sem motivo aparente. Se o servidor de DNS que você usa para de responder, quase tudo o que depende de internet também para de funcionar direito.
Sendo uma empresa de 3 bilhões de usuários, o impacto de uma queda do Facebook e do Instagram é imediato em toda a internet. Mas o WhatsApp é o que amplifica os danos para o mundo físico, afinal, muitos estabelecimentos comerciais vendem pelo aplicativo de mensagens — eu espero que você não dependa do WhatsApp para jantar hoje. Serviços bancários também estão fortemente integrados ao aplicativo do Facebook.
Na verdade, reza a lenda que até governos federais de certos países por aí dependem do WhatsApp.
Sei lá até quando isso vai durar
O Facebook ainda não havia se pronunciado oficialmente sobre o motivo da queda até a publicação deste artigo. À Reuters, pesquisadores dizem que um erro humano pode ter resultado na falha, mas uma sabotagem interna é teoricamente possível. A empresa de Mark Zuckerberg informou no Twitter que tinha ciência de que “algumas pessoas” estavam com dificuldades para acessar os aplicativos e produtos do Facebook.
Eu preciso finalizar este texto porque preciso gravar um Tecnocast, mas talvez uma nova resposta do Facebook demore um pouquinho, viu? Uma fonte diz ao jornalista Philip Crowther que os sistemas internos do Facebook também estão fora do ar, e a comunicação está sendo feita por mensagens de texto e e-mail. A jornalista Sheera Frenkel aponta que os funcionários não estão conseguindo entrar nos escritórios, já que os crachás de acesso consultam um servidor que também está inacessível.
Enquanto isso, você pode, sei lá, assistir filmes sobre tecnologia na Netflix ou ler algumas das reportagens especiais que você deixou para depois.
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