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Para ONU, agora é a hora de agir contra iminente crise da água

 AFP / HECTOR RETAMAL

Uma mulher carrega um recipiente de água na cabeça, em Porto Príncipe, no dia 20 de março de 2015

Sem mudanças, o mundo irá mergulhar numa crise hídrica que pode ser incapacitante para os países quentes e secos – alertou a Organização das Nações Unidas nesta sexta-feira.

Em um relatório anual, a ONU afirmou que o desperdício de água é tão grande atualmente, que o mundo irá enfrentar um “déficit global da água” de 40% em 2030 – a diferença entre a demanda e a reposição da água.

“O fato é que há água suficiente para satisfazer as necessidades do mundo, mas não sem mudar drasticamente a forma como a água é utilizada, gerenciada e compartilhada”, disse a ONU em seu relatório anual sobre o Desenvolvimento Mundial da Água.

“Mensurabilidade, acompanhamento e execução” são urgentemente necessárias para fazer uso sustentável da água, afirmou Michel Jarraud, chefe da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU para a água.

O crescimento desenfreado da população é um dos maiores impulsionadores da futura crise, disse o relatório.

O atual número de cerca de 7,3 bilhões de seres humanos da Terra aumenta por volta de 80 milhões ao ano, atingindo a provável marca de 9,1 bilhões até 2050.

Para alimentar essas bocas a mais, a agricultura, que já responde por cerca de 70 por cento de todas as retiradas de água, terá de aumentar a produção em cerca de 60 por cento.

A mudança do clima – que irá depender de quando, onde e como a chuva vier no nosso caminho – e a urbanização irão impulsionar a futura crise.

 AFP / SIMON MAINA

Crianças coletam água em Mwea, cerca de 98 km de Nairóbi, no dia 20 de março de 2015

O relatório apontou para uma longa lista de abusos atuais, da contaminação da água por pesticidas à poluição industrial, passando pelo escoamento de esgoto não tratado, a super-exploração, principalmente para irrigação.

Mais da metade da população do mundo obtém abastecimento potável a partir de águas subterrâneas, que também fornecem 43 por cento de toda a água utilizada para a irrigação.

Cerca de 20 por cento destes aquíferos estão sofrendo uma super-exploração perigosa, disse o relatório.

Tanta água doce tem sido sugada da rocha esponjosa, o que resulta na subsidência, ou seja, a intrusão salina na água doce em zonas costeiras.

Em 2050, a demanda mundial de água deve aumentar 55 por cento, principalmente em resposta ao crescimento urbano.

“As cidades terão de ir mais longe ou cavar mais fundo para terem acesso à água, ou terão que depender de soluções inovadoras e de alta tecnologia para atender às suas demandas de água”, prevê o relatório.

O panorama, que deve ser lançado em Nova Délhi, reúne dados de 31 agências do sistema ONU e 37 parceiros da ONU-Água.

O documento coloca os holofotes sobre regiões quentes, secas e sedentos que já estão lutando contra a demanda implacável.

Na planície norte da China, a irrigação intensiva fez com que o lençol freático diminuísse mais de 40 metros em alguns lugares, segundo o relatório.

Na Índia, o número de chamados de poços artesianos, puxando água subterrânea para a superfície, passou de menos de um milhão em 1960 para quase 19 milhões 40 anos mais tarde.

 AFP / SIMON MAINA

Crianças coletam água em Mwea, cerca de 98 km de Nairóbi, no dia 20 de março de 2015

“Esta revolução tecnológica tem desempenhado um papel importante nos esforços do país para combater a pobreza, mas o desenvolvimento da irrigação que se seguiu tem, por sua vez, resultado em estresse hídrico significativo em algumas regiões do país, como Maharashtra e o Rajastão”, ressalta o relatório.

Torneiras vazias e reservatórios secos

 AFP / FAROOQ NAEEM

Uma menina paquistanesa carrega água, em Islamabad, no da 17 de março de 2015

O especialista em água Richard Connor, principal autor do relatório, afirmou que a perspectiva é desoladora para algumas áreas.

“Partes de China, Índia e Estados Unidos, bem como do Oriente Médio, foram contando com a extração subterrânea insustentável para atender às demandas de água existentes”, disse Connor à AFP.

“Na minha opinião pessoal este é, na melhor das hipóteses, um plano B míope. Na medida em que esses recursos de água subterrânea forem se esgotando, não haverá plano C, e algumas dessas áreas pode de fato tornar-se inabitáveis”, prosseguiu.

No ano passado, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), vencedor do prêmio Nobel, estimou que cerca de 80 por cento da população do mundo “já sofre sérias ameaças à sua segurança hídrica, medida por indicadores como disponibilidade de água, demanda por água e poluição”.

A água doce no mundo

“A mudança climática pode alterar a disponibilidade de água e, portanto, ameaçar a segurança da água”, alertou o IPCC.

Corrigir os problemas – e atender às necessidades dos 748 milhões de pessoas sem água potável melhorada e dos 2,5 bilhões sem rede de esgoto – exige inteligência e agilidade dos governos, pontuou o novo relatório da ONU.

Em termos reais, isto significa colocar juntos regras e incentivos para reduzir os resíduos, punição à poluição, incentivo à inovação e fomento de hábitats que proporcionam paraísos para a biodiversidade e água para os seres humanos.

Significa, também, aprender a neutralizar possíveis conflitos por água – já que diversos grupos disputam um recurso precioso e cada vez mais escasso.

“As tarifas de água praticadas atualmente são, em geral, muito baixas para realmente coibir o uso excessivo de água pelas famílias ricas ou pela indústria”, observou o relatório, que alerta para uma futura revisão de preços.

Mas o documento pondera: “o uso responsável às vezes pode ser mais eficazmente promovido através de ações de sensibilização e apelando para o bem comum” do que somente pelo bolso.

AFP

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