Brasília, Brasil — 22 de janeiro de 2024 – A Terra Indígena Yanomami (TIY) continua a enfrentar desafios significativos, conforme revela um recente levantamento do setor de inteligência da Polícia Federal (PF). A persistência de voos ilegais na região, facilitando a entrada de armas, suprimentos e a retirada ilegal de ouro e minérios, é destaque no relatório, indicando que, mesmo após um ano de ações de emergência, a crise humanitária persiste para as populações indígenas locais.
Segundo Humberto Freire de Barros, diretor de Amazônia e Meio Ambiente da PF, voos clandestinos são registrados diariamente na TIY, com filmagens e relatos evidenciando a presença dessas atividades ilícitas. O controle efetivo do espaço aéreo sobre o território torna-se crucial para conter tais violações.
O diretor destacou a importância do monitoramento e levantamento de inteligência feitos pela PF, evidenciando a persistência dessas atividades. Mesmo com o aumento do controle aéreo implementado pela Força Aérea Brasileira (FAB) no ano passado, a entrada ilegal de aeronaves no território yanomami continua, representando uma ameaça à segurança e à estabilidade da região.
Em uma entrevista exclusiva à Agência Brasil, Freire de Barros mencionou um caso específico de garimpeiros que filmaram uma comunidade indígena isolada enquanto sobrevoavam a área em novembro do ano passado. Ele ressaltou a necessidade de um controle mais efetivo do espaço aéreo e alertou para a presença contínua desses voos ilegais.
A falta de informações detalhadas sobre as estratégias adotadas pela FAB e a ausência de balanços mais amplos das operações tornam difícil entender a eficácia das ações implementadas até agora. Estevão Senra, analista do Instituto Socioambiental, apontou que a região ainda enfrenta desafios, e a presença de cerca de 40 pistas de pouso não desativadas contribui para a persistência dessas atividades ilícitas.
A Agência Brasil procurou a FAB e o Ministério da Defesa para comentários sobre o monitoramento da PF, mas até o momento do fechamento desta reportagem, não obteve retorno.
Em nota, a FAB informou sobre uma nova operação de apoio logístico na distribuição de cestas de alimentos entre 17 de janeiro e 31 de março de 2024. A medida busca fornecer assistência à população local, mas a persistência das atividades ilegais destaca a necessidade de abordagens mais abrangentes.
A região da Terra Indígena Yanomami, com quase 10 milhões de hectares, enfrenta desafios contínuos devido à atividade garimpeira ilegal. Mesmo com a redução significativa da atividade garimpeira no primeiro semestre do ano passado, a persistência de alguns núcleos de exploração e o retorno de grupos de garimpeiros destacam as dificuldades enfrentadas pelas forças de segurança.
O geógrafo Estevão Senra observa que é necessário entender melhor as estratégias adotadas para o controle do espaço aéreo e avaliar por que algumas ações não foram eficazes, especialmente diante de uma área tão extensa.
O diretor de Amazônia e Meio Ambiente da PF, Humberto Freire de Barros, reiterou o compromisso contínuo da Operação Libertação, que resultou em quase R$ 600 milhões em apreensões e ordens de bloqueio que ultrapassam R$ 1 bilhão. Ele enfatizou o foco atual em atingir o capital que sustenta o garimpo, destacando a necessidade de investigar e punir financiadores do garimpo ilegal.
Em uma iniciativa recente, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) realizou 205 vistorias em pistas de pouso na TIY e entorno. A força-tarefa, envolvendo PF, Funai e outros órgãos, resultou no embargo de 31 pistas e monitoramento de 209 delas.
A atuação conjunto resultou na interdição de 34 aeronaves, 362 acampamentos, 310 motores, 87 geradores, 32 balsas, 48 mil litros de combustível, além de apreensão de minérios, mercúrio e ouro.
Apesar dos avanços, a crise humanitária persiste na região. O Ministério da Saúde informa que investiu mais de R$ 220 milhões para reestruturar o acesso à saúde dos indígenas yanomamis, destacando a ampliação do número de profissionais e a reabertura de sete polos-base. Entretanto, com 308 óbitos em 2023, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, reconhece que a resolução da crise não será imediata, apesar dos esforços do governo federal.
O governo federal anunciou recentemente a construção de uma estrutura permanente na TIY, envolvendo diversos órgãos, com a previsão de construção de três novas bases logísticas na região. A situação de algumas comunidades ainda não assistidas pela saúde indígena destaca a complexidade da situação, principalmente em áreas controladas pelo garimpo, onde o acesso é limitado e a segurança é um desafio constante.
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