Vaticano, 19 de dezembro de 2023 – Em uma decisão histórica aprovada pelo Papa Francisco, o Vaticano anunciou na segunda-feira (18), que padres católicos agora podem administrar bênçãos a casais do mesmo sexo, desde que essas bênçãos não façam parte de rituais ou liturgias regulares da Igreja.
O documento emitido pelo escritório doutrinário do Vaticano, efetivamente revertendo uma declaração feita pelo mesmo órgão em 2021, esclarece que essas bênçãos não legitimam situações irregulares, mas são um sinal de que Deus acolhe a todos. O Papa indicou a possibilidade de uma mudança oficial em outubro, durante um sínodo de bispos no Vaticano.
O comunicado de oito páginas, intitulado “Sobre o Significado Pastoral das Bênçãos”, detalha situações específicas, incluindo “Bênçãos de Casais em Situações Irregulares e de Casais do Mesmo Sexo”, ressaltando que essas bênçãos não devem ser confundidas com o sacramento do casamento heterossexual.
O documento destaca que os padres devem decidir caso a caso e “não devem impedir ou proibir a proximidade da Igreja às pessoas em todas as situações em que buscam a ajuda de Deus por meio de uma simples bênção”.
A Igreja Católica ensina que a atração pelo mesmo sexo não é pecaminosa, mas os atos homossexuais são. Desde sua eleição em 2013, o Papa Francisco tem buscado tornar a Igreja, com seus mais de 1,35 bilhão de membros, mais acolhedora para a comunidade LGBT sem alterar a doutrina moral.
O Padre James Martin, um proeminente jesuíta americano que atende à comunidade LGBT, classificou o documento de “um grande avanço no ministério da igreja” para eles. Em uma postagem no X (anteriormente conhecido como Twitter), Martin disse que o documento reconhece o profundo desejo de muitos casais católicos do mesmo sexo pela presença de Deus em seus relacionamentos amorosos.
Francis DeBernardo, diretor executivo da New Ways Ministry, grupo que defende os direitos LGBT na Igreja, elogiou o documento, destacando sua linguagem que as pessoas em busca de bênçãos não devem ser submetidas a “uma análise moral exaustiva”.
Casais como Martin Hardwick e Andrew Gibb, de Manchester, Inglaterra, que são casados há 41 anos, consideraram a decisão há muito tempo esperada. “Se Jesus disse que o amor era amor, então o amor é amor, não é?”, disse Hardwick. “Já estava na hora”, acrescentou Gibb.
A decisão de segunda-feira provavelmente será contestada por conservadores, que já criticaram o papa quando ele fez seus comentários iniciais sobre o assunto em outubro. Alguns acreditam que a nova orientação convidará mal-entendidos e semeará confusão, podendo até mesmo resultar em uma possível cisão na igreja. O documento, cujo título em latim é “Fiducia Supplicans” (Confiança Suplicante), enfatiza que a forma da benção não deve ser fixada ritualmente pelas autoridades eclesiásticas para evitar confusão com a bênção própria do Sacramento do Matrimônio.
A decisão foi assinada pelo Cardeal Victor Manuel Fernandez, chefe do Dicastério para a Doutrina da Fé do Vaticano, e aprovada pelo papa em uma audiência privada com Fernandez e outro oficial do escritório doutrinário na segunda-feira.
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