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sábado, 21 dezembro, 2024 11:47: pm
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De: Aquiles Para: Rita Benneditto e Jaime Alem

Ô Rita de Deus, que paixão tem a sua voz, mulher! Que força humana ela transborda em forma de lancinantes intenções, primeiras e segundas! Você faz do seu canto uma luz de esperança que dá pinta de que nunca se apagará. Fiquei cativo! Derreto-me aos seus (en)cantos. Faço deles tábua de salvação.

Ô Rita de Deus, que paixão tem a sua voz, mulher! Que força humana ela transborda em forma de lancinantes intenções, primeiras e segundas! Você faz do seu canto uma luz de esperança que dá pinta de que nunca se apagará. Fiquei cativo! Derreto-me aos seus (en)cantos. Faço deles tábua de salvação.

Em plena onda de emoção em que me encontro, dou-me conta de que também me entrelacei às cordas dos instrumentos de Jaime Alem. Amarrado a elas, eu me agarro à borda de la nave que va e volte, num ir infindo.

Sua sabedoria, Rita, somada à do grande instrumentista que é Jaime Alem, resultou em Rita Benneditto convida Jaime Alem, trabalho que assume lugar de destaque na discografia independente que, até aqui, brilha no mercado musical.

Quando se iniciou o arranjo de “Credo” (adaptação de Marlui Miranda à saudação tupã), Jaime tocando violão de doze cordas e você tocando delicados instrumentos de percussão, a tampa abriu e espalhou mil lascas de puro barro artesanal. Sua voz, tão afinada, tamanho é seu requinte, chega a ser inacreditável, pois ela bem suporta o apetite de revelar a dor pungente dos versos em língua indígena. Escritos com palavras de significados desconhecidos, eles são compreensíveis apenas pelos que sentem a ancestralidade dos verdadeiros donos da terra.

E o navio vai por entre borrascas e calmarias até aportar em “Se Não Existisse Sol” (Chagas). Sobre a viola e o violão de Jaime, este que soa desde a intro com a perfeição de um som atemporal, paira a sua voz, Rita. Até que um improviso da viola encontra os seus vocalises e vocês nos levam ao âmago do som de um Brasil ardente. E é lá que brilha a luz nordestina de tradições seculares, levadas à frente por um povo que descende de pretos africanos e louros holandeses… gente que é boa musica. Bom demais da conta.

“Canto de luz” (Godão) revela a forma como vocês, Rita e Jaime, cerziram as entranhas que revigoram a beleza do canto das Caixeiras do Divino, do Maranhão. Rita dobra a própria voz e perfilha o canto em terças das mulheres que trabalham e cantam à luz. E, como se orassem, dão beleza à simplicidade que se sobrepõe à pompa fútil, tornando-a arte de viva delicadeza.

“Rosa de Hiroshima” (Gerson Conrad e Vinicius de Moraes) soa com o violão de Jaime amparando a sua voz sentida, Rita. A solidez dos versos do poeta encontra a firmeza da voz de quem se levanta para bradar que veio com tudo, revelando a intemperança da mulher que sabe do prazer e da dor da vida, expostos em seu cantar.

Meu Deus, Rita Benneditto e Jaime Alem, o trabalho de vocês é o porto seguro para quem busca a esperança de ver o mundo sem preconceitos e sem violência contra mulheres, LGBTQIAP+ e crianças e de que a alegria vá às ruas, cheias de gente a dançar e cantar.

Beijo-os com a força de quem vê na música a redenção e a glória de um povo que certamente amará a que vocês apresentam num álbum exemplar.

Aquiles.

Aquiles Rique Reis
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