Guto Bellucco lança as canções cavernosas de uma “Sopa de Morcego”

Lançado em 26 de novembro, o novo álbum do músico carioca Guto Bellucco tira a ironia e a melancolia para dançar. As primeiras notícias vinham da China: um vírus letal se espalhava rápido demais. A febre e a falta de ar prenunciavam as mortes em sequência. A primeira explicação para o mundo que se trancava dizia que o hábito de tomar sopa de morcego poderia ser a causa da pandemia do novo coronavírus. Não uma farofa de tanajura ou um risoto de escargot, mas uma sopa de morcego. Era só a primeira das muitas conspirações.

O estranhamento, o medo, mas sobretudo o espanto foram os ingredientes que o compositor e músico Guto Bellucco refogou nos primeiros meses em que se viu confinado no apartamento de subsolo de um morro carioca. Ouvia os sinos da igreja do Largo das Neves e via da janela a cidade deserta. Horas intermináveis de xadrez, solidão e sempre ele, o espanto, o empurraram para o violão encostado. “De repente, tive tempo de um modo inédito. As músicas foram chegando como os bichos que invadiam as cidades vazias. Nove das doze canções do disco brotaram nos três primeiros meses da pandemia”, observa Guto.

As músicas do disco Sopa de Morcego foram compostas num jorro. “Do violão saíam baladas e rocks com refrões inusitados. As melodias com letras pandêmicas se multiplicaram. Até duas músicas compostas na adolescência me pareceram atuais e  ganharam nova roupagem”, completa ele. O que era antigo ficava novo, o que era triste dava vontade de dançar e as imagens novas e meio lisérgicas, como sapatos se acumulando em frente à porta, entravam nas letras. O disco foi ganhando corpo e um elemento unia as canções: uma certa melancolia irônica. E o lançamento será em 26 de novembro.

É Guto Bellucco quem toca quase todos os instrumentos: violão, guitarra, viola caipira, baixo e teclados. As canções giram em torno daquele momento mais agudo de incerteza e paralisia.  “Me parecia absurda até mesmo a ideia de fazer músicas. É desse sentimento e dessa incongruência que as letras e melodias parecem partir. Me dei conta de que tinha um álbum conceitual na mão, com músicas tristes e ao mesmo tempo cômicas. Tem um pouco de ‘morbeza romântica’ na estética do álbum”, complementa ele, fazendo alusão às composições da dupla Jards Macalé e Waly Salomão. As melodias cantáveis do rock mais clássico dos anos 60 e 70 também figuram como ingredientes fundamentais dessa sopa.

Autora da instalação Diva, Juliana Notari assina a capa de Sopa de Morcego.

Depois de inaugurar a obra Diva em Pernambuco, instalação visual que implanta a imagem de uma vulva-ferida gigante na terra –  que causou uma forte comoção pública em janeiro de 2021 – a artista visual Juliana Notari criou a capa do disco. Uma caverna que faz eco com suas provocações estéticas, que incluem as performances Mimoso (2014) e Amuamas (2018).

Mestre em Teoria Literária pela UFRJ e ex-integrante das bandas Cobras & Lagartos e Caô de Raiz, Guto toca violão e guitarra desde a adolescência, quando já era apaixonado por Beatles e admirava as letras simples e tocantes de John Lennon.  Cresceu em Niterói, onde já tocou em muitos palcos, como o Convés e a Estação Cantareira. Iniciou suas gravações solo em 2015. Em 2017 lançou o álbum O Jovem Augosto Mollusco. Em 2019, às vésperas da pandemia, integrou a dupla Baderna & Mollusco.  Órfão das noites de sexta no Plano B, na Lapa, fez ali algumas apresentações com a cantora Lucía Santalices e Alexandre Gwaz, com quem formava o trio Jeanette, que misturava noise e canções.

Foto de Monica Ramalho
Ouça aqui o álbum “Sopa de Morcego” 
Baixe aqui as fotos de divulgação

Créditos::
Guto Bellucco: Voz e instrumentos
Leandro Salgueirinho: Produção
Renato Amu: Masterização
Juliana Notari: Arte

Monica Ramalho (21) 9.9163.0840 – monica@belmira.com.br

Da Redação by Cleo Oshiro

Cleo Oshiro
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