9.9 C
Kóka
sexta-feira, 8 novembro, 2024 1:37: am
spot_imgspot_imgspot_imgspot_img
spot_img

Reflexões sobre a arma blindada do exército brasileiro

Reflexão sobre as decisões do caminho a seguir na encruzilhada estratégica sobre a Arma Blindada do Exército Brasileiro.

Reflexões sobre a arma blindada do exército brasileiro

Reflexão sobre as decisões do caminho a seguir na encruzilhada estratégica sobre a Arma Blindada do Exército Brasileiro.

“O ataque dos carros tem uma grande influência moral, provoca, é indiscutível, o mais desmoralizador efeito sobre o inimigo, e, correspondentemente, estimula, encoraja as tropas atacantes; ao mesmo tempo em que protege as suas vidas, aterroriza e desmoraliza o inimigo, vencendo os ninhos de metralhadoras, destruindo as redes de arame farpado e demais obstáculos e facilitando o avanço da infantaria e assegurando a conquista do terreno.”

A clássica obra “Os Tanques na Guerra Europeia 1914-1918”, do Marechal José Pessôa Cavalcanti de Albuquerque, reeditada em 2018, pela ESG, inspira o momento de reavaliar a Arma Blindada no Brasil de forma a subsidiar as decisões.

Um pelotão de Leopard1A5BR, quatro carros e 16 tripulantes traballhando como um time treinado.

As Funções do Carro de Combate ao longo de um Século

Colocaremos em três momentos diferentes funções que o Carro de Combate tomou ao longo de um século. Um fato é importante é que sempre devemos considerar o efeito choque:

1 – I Guerra Mundial –  A função básica era de tentar romper as cercas de arame farpado e conseguir passar as trincheiras;

2 – II Guerra Mundial – Adquire a capacidade de manobra e choque. Batalha de Carros x Carros, em momentos determinados, como Kursk, no front russo;

3 – Guerra do Yom Kippur (1973) – Dois Teatros de Operações distintos. Nas Colinas de Golan uma Guerra de posição onde e precisão de tiro dos carros Centurion israelenses foi decisiva para derrotar as massas blindadas Sírias. Na Península do Sinai o ataque israelense foi dizimado pelos misseis Anti-Carro, dos egípcios, nos primeiros dias do conflito.

Estas realidades, vão permanecer e serem aperfeiçoados nos 50 anos seguintes. Na Guerra Fria a concentração de Carros de Combate / MBT no Front Central, tanto pela OTAN, como o Pacto de Varsóvia e a falta de espaço para manobra levou como prioridade a precisão de tiro. Atirar certeiro primeiro, o mais longe possível, e sobreviver ao eventual sucesso do inimigo se nos atingir.

O autor teve a rara oportunidade de acompanhar duas edições, 1987 e 89, da competição da OTAN, o Canadian Army Trophy (CAT). Participantes todos os países com Carros de Combate, na Alemanha.   O pelotão de carros cumpria um trajeto no stand onde alvos, simulando blindados ou tropa, apareciam de forma inesperada.

Objetivo era testar a velocidade de reação x precisão de tiro x quantidade de munição usada. Aqui o claro objetivo, avaliar a performance das equipes, em conter a massa de carros de combate soviéticos e de seus aliados correndo na Alemanha.

Alguns itens ficaram ressaltados:

1 – Superioridade em Sensores e Comunicação é Fundamental;

2 – Armamento eficaz com munição letal e de maior Vo (Velocidade Inicial), possível, e,

3 –  Blindagem e Mobilidade.

Caso o país concorrente era deficiente em algum ponto isto poderia ser compensado com: treinamento, treinamento, treinamento e mais treinamento.
Dois casos são clássicos nas edições do CAT:

1 – Belgas – Com seu carro Leopard1BE, uma versão inferior ao atual Leopard 1A5BR, conseguiam excelente resultados, caso algum pelotão de M1 Abrams americanos ou Leopard 2 da Alemanha ou Holandeses se distraíssem, e,

2 – Holandeses – A Alemanha não fornecia aos holandeses a mesma munição dos Leopard 2, canhão 120mm alma lisa, tão veloz, como a que as tripulações alemãs usavam. A solução dos holandeses, foi: treinar, treinar, treinar.

Mesmo assim foram superados pelos ”guris” holandeses, em 1987. A vitória na edição do CAT 89, tornou-se um caso de honra nacional.

O Tanque está morto? Longa vida ao Tanque.

A cada conflito há sempre os que decretam o fim do Carro de Combate. Podemos certamente afirmar que não chegou este momento, mas não conseguimos responder a estar perguntas.

Quais serão as missões dos Carros de Combate em Operações de Amplo Espectro às Missões de Paz e até GLO?

Estas pequenas digressões e questões levam ao ponto atual e das encruzilhadas em que os blindados estão no Brasil

Dois movimentos relevantes ocorreram na Arma Blindada nos anos 2000:

1 – Concentrar as forças blindadas no Sul (CMS), transferindo dois RCC localizados no eixo da Av. Brasil (RJ);

2 – Com a Família Leopard 1A5BR introduzir o Projeto de Arma Blindada Estruturado e Sistêmico.

A experiência com o Leopard 1BE (Bélgica), e em certa parte com o M60A3TTS, foram confusas e desconectadas. O que levou o representante da KMW, na FIDAE 2000, afirmar ao autor, que a operação do Leopard 1BE, pelo Brasil, colocava em risco o nome e prestígio da KMW no mundo. Embora a empresa alemã não tivesse no momento nenhum contato com o Brasil.

Membros da 5ª Brigada Blindada em uma instrução. O treinamento é fundamental para o sucesso em operações complexas como as blindadas.

Ao longo destes 20 anos, um notável progresso. O Exército Brasileiro começou a entender e praticar, em especial na última década, operações blindadas mais amplas e complexas.

O Estado-Maior do Exército (EME), lançou a “Diretriz Estratégica para a Formulação Conceitual dos Meios Blindados do Exército Brasileiro”, através da Portaria 162, de 12JUN2019. Surge a “Nova Couraça”, que veio com grandes expectativas.  O resultado já apresentado ao EME, ainda permanece de classificado como restrito. DefesaNet, não teve acesso aos membros da equipe formada, para pesquisar este artigo.

A Diretriz definia que fossem estudadas opções para a VBC CC Leopard 1A5BR:

“Realizar estudo preliminar sobre a possibilidade de modernização pela indústria nacional e estudo sobre a nacionalização de parte de seus componentes principais, para minimizar a dependência logística de empresas estrangeiras. Os estudos deverão focar, principalmente, alguns de seus componentes optrônicos e o giro da torre. Paralelamente, iniciar o planejamento da obtenção de um carro de combate médio nacional, seja por projeto original, seja por fabricação sob licença de um modelo estrangeiro.”

O Teatro de Operações Regional

Miremos o Teatro de Operações Regional, com os países fronteiriços que possuem Arma Blindada: Argentina, Uruguai e Bolívia.

Não considerada a Venezuela, mesmo com o terreno chamado apto às operações blindadas o “Lavradio”, mas desconsideramos nesta análise.

Argentina

O Exército Argentino tem há uma década a combinação HUMMER e o míssil de longo alcance TOW2B, equipados com visão termofráfica, ambos de procedência americana.

Os argentinos operam seus TAM (Tanque Argentino Mediano), operando em um arco de proteção dos mísseis TOW, alcance 3500 a 4000m. Muito mais que a distância efetiva dos canhões 105mm (L7A3) do Leopard 1A5BR.

A foto abaixo é emblemática. Há poucas informações e material sobre operações do binômio TAM, Infantaria Blindada e Hummers+TOW.

Uruguai

Quando as tripulações uruguaias trocaram as bandeirolas brasileiras pelas uruguaias, nos 25 M-41C, doados pelo Brasil ao Exército Uruguaio poderia passar a impressão de viver no passado. A solenidade prestigiada pelos comandantes dos dois Exércitos, ocorreu em dezembro de 2019.

No 7º RC Mec, em Sant´Ana do Livramento, RS, o Exército Brasileiro realizou a solenidade de doação de 25 Carros de Combate M41C ao Exército Uruguaio Foto Marcelo Pinto / A Platéia

Não é o caso. Em um hipotético conflito o invasor não teria os veteranos blindados M-41C, desativados das Forças Brasileiras pela frente, mas sim os caçadores, deslocando-se em viaturas Land Rover e equipados com mísseis MBDA Milan. Com a linha de visada limpa do Pampa seriam um inimigo temido. Em especial pela visão termal que permitem operações noturnas.

Combinação Land Rover + mísseis MBDA Milan do Exército Uruguaio

Bolívia

A Bolívia possui o sistema de míssil chinês HJ-8, Hongjian 8, muito similar em conceito ao americano TOW. É creditado o alcance de cerca de 4.000 m. Possui uma mira termal. A versão HJ-8L inclui várias melhorias e performance na penetração.

Sistema míssil AC HJ-8, Hongjian 8, de origem chinesa emuso pelo Exército Boliviano

Chile

O Chile merece uma menção importante. O representante chileno a um evento realizado, no Rio de Janeiro, em 2012, declarou ao autor: “O objetivo do Chile é ter superioridade regional em equipamento blindado”.

Encruzilhada histórica para a Arma Blindada.

A digressão histórica e a avaliação do Teatro de Operações servem de base para a análise do atual momento da Arma Blindada do Exército Brasileiro.

O que está na mesa para decidir não é uma proposta de Modernização, muito menos podemos considerar Revitalização ou Repotencialização, mas sim uma proposta regressiva.

Há exatos 55 anos saia o primeiro Leopard da linha de produção da Krauss-Maffei (09SET1965), em Munique. Vinte anos após, versões mais capazes empregadas pelos Belgas e Canadenses não eram páreo para os Leopard 2 e M1 Abrams. Ambos modelos, que além de optronicos, com visão termográfica, incluíam um fundamental incremento em blindagem e armamento principal.

A versão Leopard1A5, uma modernização de 1.276 Leopard 1A1A, modelos das primeiras séries, foi desenvolvida pelo Exército Alemão, para serem empregados como uma segunda linha, caso as pontas do ataque do Pacto de Varsóvia conseguissem romper as defesas da OTAN.

Portanto temos envelhecimento:
–  conceitual;
–  projeto, e,
–  componentes automotivos e estrutural.

O mais importante é como rejuvenescer a VBC CC Leopard 1A5BR torna-la competitiva até 2040? Seriam 75 anos de uso, lembrando que as atuais viaturas foram produzidas no período de 1965-1974.

Modernizar para ser a “Ponta de Lança”?

Todas as modernizações realizadas no mundo, mostram que as unidades são usadas como reserva operacional.

“É conveniente ressaltar que nenhum kit de modernização é capaz de transformar o core do projeto que deu origem ao carro, ou seja, o que foi idealizado desde sua gênese, dificilmente será alterado. Em ambos os casos, independentemente de quais itens sejam modernizados, estes apenas mitigariam as vulnerabilidades do carro face as atuais ameaças.”

Portanto temos na mesa uma proposta de um investimento algo em torno de R$ 6/10 Milhões por cada Carro. Uma missão de hercúlea e custosa de alterar ou acrescentar sistemas: optrônicos / elétricos / mecânicos / blindagem.

Com resultados incrementais e de pouco ganho na performance final do sistema VBC CC Leopard1A5BR, com um custo real enorme.

Dados levantados por DefesaNet mostram este esforço em R$ 1,6 – 2,0 Bilhões, que drenará os sempre recursos escassos, e com resultado operacional marginal. 

Temos de avaliar uma proposta de melhoria nos parâmetros de:

1 – Missão – Qual a missão a ser definida para um Leopard1A5+? Isto terá profundo impacto no custo, prazo da definição do projeto e detalhamento de engenharia.

2 – Prazo – A solicitação de uma proposta de técnica-operacional detalhando a melhoria em sistemas do VBC CC Leopard1A5BR, seguindo o projeto de engenharia e seu detalhamento seriam um prazo de dois anos. Incluindo os testes de protótipos teríamos na melhor do ciclo um prazo de 2 a 4 anos.

3 – Custo –  O custo do esforço de desenvolvimento e industrialização canibalizarão os recursos do desenvolvimento de uma nova VBC CC, para um ganho incremental em performance.

A proposta tem muito do esforço e pensamento de fazer o melhor, mas que tem levado a decisões desastradas nas Forças Armadas Brasileiras, como o leasing do B-767 pela FAB.

“Não há, nem nunca houve recursos para produzir o que se quer e na quantidade necessária.” Comentário de um membro do grupo da Nova Couraça postado em rede social.

O Estado-Maior do Exército necessita tomar ações imediatas na revisão do Contrato de Suporte Logístico (CSL), em curso, para que o atual prestador do serviço assuma todo o ciclo. O atual com a responsabilidade de aquisição de repostos pelo Exército Brasileiro tem gerado descompasso e tornou-se crítico. De imediato aumentaria disponibilidade de carros a um nível aceitável.

Alguns pontos para considerar:

  • Se os atores do Teatro Operacional sinalizam um perfil operacional, que parece não ser avaliado em todo pelo EB?
  • Experiências de combates recentes (Ucrânia, Síria, Iêmen e agora Armênia-Azerbaijão), mostram o grande impacto nas operações do míssil AC e sistemas de artilharia com munições especiais.
  • As ofertas de parceiro tem de ser olhadas do ponto de vista estratégico. Um país que é tem adotado uma política de intevenção e desestabilização na África e na sua região é aliado de país hostil ao Brasil. O relacionamento nos níveis  comercial, industrial e político poderá tornar-se totalmente incerto.
  • Modernizar o velho, cansado e exaurido Leopard1A5, ou romper barreiras?

Adequamos a frase épica adotada pelo Comandante do Exército Brasileiro em recente mensagem. As decisões a serem tomadas e a definição do curso de ação o exigirá para os que definem os rumos da Arma Blindada:

“Decidiremos sem Temor”

“Estamos convencidos de que os alemães, tendo sido extremamente limitados em suas forças militares, pelo Tratado de Paz (Versalhes), irão construir tanques destes novos modelos, que serão dotados de aparelhos para emissão de gases os mais deletérios. Eles, com estes engenhos, terão uma  arma tão mortífera que as demais não terão poder para se lhe contrapor. É preciso, portanto, que não nos deixemos apanhar de surpresa, e aproveitemos a supremacia material que conquistamos à custa de nosso sangue e de enorme sacrifício.”

Radio Shiga
Siga-nos
Últimos posts por Radio Shiga (exibir todos)
SourceDefesanet

Artigos relacionados

ÁSIA

spot_imgspot_img