Passa de seis mil o número mortos na guerra contra as drogas nas Filipinas. “Ma, tulong”, Jason Babierra, de 32 anos, gritou pela ajuda de sua mãe, enquanto arrastava seu corpo cheio de balas no pavimento de concreto do bairro Bernabe, em Paranaque, um subúrbio de Manila.
Essas foram as últimas palavras de Jason, segundo uma testemunha, antes de morrer.
Isso aconteceu dois dias antes foi dois dias antes do Dia de Finados, em novembro passado.
Jason, um vendedor de rua, andava de bicicleta fora da casa onde morava com seus pais e irmãos. De repente, dispararam tiros. As pessoas agacharam para se esconder.
Momentos mais tarde, eles ouviram uma motocicleta acelerar. O atacante desapareceu na noite. Jason estava morto.
Eu estava em pé em uma esquina próxima, à espera de um táxi, quando vi a movimentação. Quando cheguei à cena, um policial já estava montando a fita amarela.
Jason, estava usando chinelos, shorts com padrão de camuflagem, camisa cinza e boné de beisebol preto voltado para trás, estava deitado de lado, o rosto refletindo a luz fluorescente da barraca de comida nas proximidades. Seus olhos ainda estavam abertos, sua boca entreaberta.
– Biboy, Biboy, não posso aceitar isso!
Os gritos da mãe de Jason, Juvilla, que chamava seu primogênito pelo apelido, perfurou o silêncio, atordoado os espectadores.
Celso, o pai, olhou inexpressivamente o cadáver de Jason deitado na rua.
Perguntei ao investigador-chefe se era outra morte relacionada às drogas. Ele hesitou. Mas um garoto que vendia jornais na área me disse que Jason era “notório” por “entrar e sair da prisão”.
Na guerra em curso contra as drogas no país, a linha entre suspeitos de drogas e outros criminosos tem sido tênue.
Na relação da Al Jazeera, atualizada em 13 de dezembro, inclui um menino de 16 anos e três de 17 anos, acusados de serem membros de gangues na ilha central de Leyte, que foram mortos por pistoleiros desconhecidos.
Em nenhum lugar do relatório é afirmado que eles estavam ligados a drogas.
Em outro incidente, um defensor antidrogas foi abatido por dois pistoleiros mascarados, que acabaram sendo policiais.
Desde que o presidente Rodrigo Duterte tomou posse no dia 30 de junho, morreram 6.095 pessoas na guerra contra as drogas (até 14 de dezembro), de acordo com um relatório da polícia, citado pelo site de notícias de Manila Rappler.
Isso é uma média de 1.015 mortes por mês, e o sexto mês de Duterte no cargo está apenas na metade.
Do total de mortos, 2.102 foram em operações policiais, enquanto 3.993 foram mortos por suspeitos desconhecidos.
Com base nos dados adicionais recolhidos pela Al Jazeera, de outras fontes de notícias e através de relatórios independentes, o número de mortos é de pelo menos 6.108.
Entre os mortos nas últimas semanas estavam três irmãos, Jay, Jake e Jave Lato, que foram executados por pistoleiros desconhecidos na ilha de Cebu, em 10 de novembro.
Segundo um relatório, os irmãos se renderam, anteriormente, à polícia durante uma operação antidrogas em sua cidade.
Na segunda-feira, Duterte declarou que “menos pessoas estão sendo mortas” e “elas estão quase acabadas, de qualquer maneira”.
Mas, com base na análise do relatório oficial da polícia, em média, 36 pessoas foram mortas todos os dias durante os 168 dias da presidência de Duterte.
Nos primeiros quatro dias de Duterte no cargo, a média era de 11 por dia.
O governo insistiu que aqueles mortos pela polícia – mais de 2.000 – morreram durante as legítimas operações antidrogas.
A polícia também disse que estão investigando outros casos de pistoleiros desconhecidos.
Em maio de 2015, respondendo a uma pergunta, de um repórter de Davao, sobre sua possível candidatura presidencial e seu registro de direitos humanos como prefeito, ele disse: “Eu não quero cometer nenhum crime, mas se por acaso, Deus me colocar lá, é melhor vocês prestarem atenção. Esses 1.000 se tornarão 100.000 e vou jogar todos na Baía de Manila, e engordar todos os peixes por lá. ”
Foi durante aquela entrevista quando ele disse, pela primeira vez, que os relatos de que tinha ligações com esquadrões da morte eram “verdadeiros”.
Na terça-feira, antes de sair para uma visita ao Camboja e Cingapura, Duterte anunciou o lançamento de US $ 20 milhões para compra de medicamentos para dependentes de drogas em fase de reabilitação.
Ele estava respondendo a críticas, que disseram que a reforma e reabilitação estão faltando em sua política antidrogas.
“Espero que um bilhão [de pesos ou US $ 20 milhões] seja o suficiente para tratá-los neste Natal”, disse ele.
Então, em uma tentativa de humor negro, Duterte brincou: “Agora, se vocês, realmente, ficarem loucos e não houver mais chance de reabilitação, vou apenas enviar uma corda para vocês.
Mas, para muitas das famílias das vítimas, os assassinatos não são motivo de riso.
Especialmente para vítimas jovens e inocentes, como San Nino Batucan, de sete anos, que foi morto por uma bala perdida em Cebu, no dia 3 de dezembro.
Ou Althea Barbon, de quatro anos, de Negros, que morreu ao lado de seu pai durante uma operação secreta da polícia antidrogas.
Ou Francis Manosca, de cinco anos, que foi atingido na testa, depois que um pistoleiro desconhecido disparou através de sua cabana de madeira.
Seu pai, Domingo, era o alvo e também foi morto no ataque, no domingo passado.
Na manhã de 15 de dezembro, outras 13 pessoas foram mortas, incluindo cinco guardas de aldeia, que supostamente lutaram com a polícia durante uma operação secreta, de acordo com a emissora de rádio de Manila DZMM.
Dez dias antes do Natal, uma das festas mais importantes para os 80 milhões de católicos e milhões de outros cristãos nas Filipinas, não há pausa na matança.
by Ted Regencia
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