Oi! Boa semana para você!
A catarse anual de um povo.
Liberta-se o vapor da panela de pressão interior de cada um.
(senão o povo explode, ainda mais em épocas tão tensas).
Problemas se anestesiam.
Ampliam-se os sentidos, o sensorial dita as regras.
A loucura é botada para fora, permite-se ser diferente (ou seja, ser o que é na verdade, sem a máscara vestida para conseguir aceitação social) por estes dias.
Rainhas, reis, animais, personagens diversos ganham vida e caem numa follie desgraçada que parece não ter fim. E muito menos limites.
A suburbana pobrinha ganha seus dias de luxo na fantasia caprichada. Desfila e olha por cima.
O nego do armário arma-se de kanekalon, batom e sai de saia, permite-se ser mulher.
A reencarnação da Cleópatra sai para conquistar todos os homens do Egito.
A feia de cara tem a grande chance de mostrar a bela bunda.
Até o mais “santinho” e moralista dá uma espiada marota na sacanagem alheia, vai falar que não.
Grita, pula, canta, dança, bebe, ri muito e come. Arrebenta a represa de sentimentos e sensações do peito, faz mais estragos que a Samarco.
Todo beijo vem assinado de irresponsabilidade, não-compromisso, apenas desvario.
O teu sexo, tão particular, estatiza-se e o público geral ganha acesso. Sem compromisso, claro, pois é carnaval.
O país sempre humilhado pelas notícias negativas faz um espetáculo de cores imenso, transformando todo o universo em seu palco.
Carros alegóricos gigantes, cores mil em passarelas, corpos bronzeados, música.
A TV esquece das notícias ruins, da novela arrastada e se inunda de gente feliz dançando, pulando, colorida.
Tudo funciona praticamente perfeito.
É a nossa incoerência de brasileiro: a hora que somos mais perfeitos é justamente na hora da farra.
E ninguém está nem aí para nada! Lança-perfume coletivo, o mundo fica cheiroso, colorido, lúdico e louco. Rodopiante. Meio que iguala rico e pobre, branco e preto, homem, mulher (e suas misturas) no éter extático.
Mesmo quem não gosta de carnaval, gosta. Vira férias.
E vem a quarta-feira.
De cinzas, pois é um funeral na verdade, a ressaca de fim-de-domingo multiplicada pelo infinito.
Realidade vem voltando para casa, hora do sonho dizer tchau.
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