O Japão assinala este mês o 70.º aniversário dos bombardeamentos atômicos de Hiroshima e Nagasaki, no final da Segunda Guerra Mundial, entre protestos diários contra a alteração do caráter pacifista do país, inscrito na Constituição.
Enquanto Hiroshima e Nagasaki preparam as cerimônias anuais em memória das vítimas e de apelo à paz e ao desarmamento, Tóquio é palco de contínuas manifestações, em frente ao parlamento, de milhares de pessoas que protestam contra a reforma legislativa sobre questões militares proposta pelo executivo.
O governo de Shinzo Abe prevê aprovar antes de outubro uma revisão legal que, pela primeira vez em 68 anos, vai permitir às Forças de Autodefesa japonesas participar em operações no estrangeiro (por exemplo, em missões da ONU) e de defesa de aliados em caso de ataque.
Até agora, este tipo de ações tem estado limitado pelo artigo 9.º da Constituição japonesa, adotada em 1947, durante a ocupação dos Estados Unidos, o qual impede o Japão de recorrer à força para resolver conflitos internacionais.
Impossibilitado de introduzir uma emenda à Constituição, que requer o apoio de dois terços das duas câmaras do parlamento e uma maioria simples em referendo, Abe escolheu uma “reinterpretação unilateral”, um atalho considerado por analistas como questionável, para poder legislar na câmara baixa (Câmara dos Representantes), onde tem maioria.
A decisão do executivo foi aplaudida por Washington, que tem em Tóquio o principal aliado militar na Ásia, em contraponto ao poder da China, e por grande parte da comunidade internacional, incluindo a União Europeia.
As manifestações de rua e as sondagens à população japonesa mostram uma posição muito diferente, já que cerca de 60% das pessoas afirmam ser contra esta mudança na Constituição.
Para os críticos desta política, dentro e fora do Japão, a insistente mensagem do governo japonês sobre o inquebrável compromisso do país com a paz não será muito credível para os países vizinhos que, como a China, sofreram o domínio japonês até ao final da guerra.
Ao longo do seu trajeto político, Abe apoiou a omissão dos crimes cometidos pelo exército imperial japonês na Ásia antes e durante a Segunda Guerra Mundial nos manuais escolares de milhões de estudantes.
Uma recente sondagem da agência noticiosa japonesa Kyodo mostrou que 41% dos japoneses não sabem definir se o conflito foi “de agressão” ou “de autodefesa”.
Com ou sem reforma militar, esta polêmica não vai tranquilizar nem os países vizinhos, nem os sobreviventes das únicas duas cidades atacadas com armas atômicas na história da humanidade.
A 06 de agosto de 1945, às 08:45 (hora local), os Estados Unidos lançaram uma bomba atômica de urânio (batizada “Little boy”)sobre a cidade de Hiroshima.
Entre 70 mil e 80 mil pessoas, cerca de 30% dos residentes da cidade, morreram na explosão e consequente onda de choque e 70 mil ficaram feridas.
Três dias depois, às 11:02, a cidade portuária de Nagasaki foi o alvo escolhido para lançar outra bomba (a “Fat man”), com núcleo de plutônio.
Apesar de mais potente que a “Little boy”, os efeitos da segunda bomba atômica fizeram-se sobretudo sentir no vale de Urakami, rodeado por várias colinas. As estimativas do número de mortos rondam entre os 22 e os 75 mil.
Nas duas cidades, a maioria das vítimas era civis, embora Hiroshima fosse um importante posto militar.
A 15 de agosto, depois do bombardeamento de Nagasaki e da declaração de guerra da União Soviética, o imperador Hirohito anunciou o cessar-fogo.
A 02 de setembro, o Japão assinava o instrumento de rendição incondicional, pondo fim à Segunda Guerra Mundial.
O papel dos bombardeamentos atômicos na rendição japonesa e a sua justificação ética continuam a ser debatidos.
Num estudo do instituto norte-americano Pew Research Center, divulgado em fevereiro, mais de 56% dos norte-americanos consideraram que a utilização da bomba atômica contra o Japão foi justificada, contra 79% dos japoneses que afirmaram o contrário.
Agência Lusa/noticiasaominuto
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