Verônica Ferriani: O Samba Raiz Pede Passagem. Verônica Ferriani…“Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio”. Esse é o título do segundo trabalho solo da cantora, onde todas as canções são autorais. Verônica disse, que o disco nasceu do desejo e da coragem em sair da zona de conforto, onde passou por um processo intenso de reflexão interior e as músicas foram fluindo, surgindo assim a inspiração para compor. As músicas do CD tem em comum o mais universal dos temas…- O Amor – sob o recorte irônico dos diferentes papeis vividos por cada um em suas relações amorosas. Vamos saber um pouco mais sobre essa talentosa intérprete da nossa MPB. Com vocês…Verônica Ferriani.

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Verônica, seu início na carreira musical foi através do compositor e violonista Chico Saraiva?
Sim, foi ele a me convidar ao palco pela primeira vez, por indicação de minha professora de canto à época, Regina Machado. Ele havia acabado de gravar um disco em decorrência de vencer o Prêmio Visa. No disco participavam vários artistas, mas seria inviável levar todos ao palco na turnê, entrei para cantar todas as músicas, como parte da banda.

Se apresentou por muito tempo na companhia dele. Qual a importância do Chico Saraiva na sua formação musical?526670_428045293902162_775160855_n
Chico foi minha primeira experiência com a música autoral de um compositor da nova geração. Com ele cantei por 2 anos em palcos de todo o Brasil bem no início da carreira e em 2009 gravamos em parceria um disco todo autoral, “Sobre palavras”, com o qual conquistamos prêmios e editais como o Pixinguinha (Funarte), ProAC e BNDES.

Mas a paixão pela música surgiu na infância?
Meus pais não são músicos profissionais, mas se conheceram tocando violão e assim se apaixonaram, aos 17 anos. Minha casa foi sempre muito musical, com rodas de violão frequentes, e fui tendo vontade de participar também, começando aos 8 anos a fazer aulas de violão. Queria ser arquiteta, mas amava cantar desde criança.

Você nasceu em Ribeirão Preto-SP, mas mudou -se para São Paulo na adolescência. Essa mudança foi para se dedicar a música ou para estudar?
Eu estudei música durante 5 anos e continuo ainda estudando canto; música é uma área que, em minha opinião, requer muita dedicação e estudo. Mas fui morar a São Paulo inicialmente pra fazer faculdade de arquitetura e urbanismo na USP, que comecei tendo certeza de ser meu caminho. Ao final da faculdade comecei a estudar música e já estava bem envolvida com a ideia de viver da música.

Chegou a participar de festivais de música?
Seguem alguns festivais abaixo:

2014 – Turnê de lançamento de seu disco autoral, Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio, através do Circuito Cultural Paulista, Virada Cultural Paulista, Levada Oi Futuro (RJ), Som na Faixa (SP), SESC Pompeia (SP), entre outros.
2014 – Participação no Projeto Samba de Bamba, no Teatro da Caixa Cultural, em Curitiba.
2014 – Participação no Projeto Centenário de Lupicínio Rodrigues, em 4 shows no SESC Bom Retiro, ao lado da cantora Célia e de Zé Renato.
2013 – Participação no Projeto “Novas Vozes do Brasil”, a convite do Itamaraty e das Embaixadas do Brasil em Bogotá, Lisboa, Madri, Moscou (USADBA Festival), Tóquio (Ayoama Festival) e Tel Aviv.
2012 – Participação, ao lado de Monarco, no Projeto “Contos de Areia – 70 Anos de Clara Nunes” no CCBB Brasília, com curadoria de Monica Ramalho e Luís Filipe de Lima, também diretor musical e arranjador; integraram o projeto: Joyce, Teresa Cristina, Delcio Carvalho, Maíra Freitas, Nei Lopes, Nilze Carvalho, Mariene de Castro, Pedro Miranda, Elton Medeiros e Fabiana Cozza;
2011 – Participação, ao lado de Zé Renato, no Projeto “Cale-se – A Censura Musical” nos CCBBs SP e RJ, concebido e dirigido por Marcus Fernando; integraram o projeto: Eduardo Dussek e Silvia Machete, Fátima Guedes e Luiz Mazzioti, e Alfredo Del Penho e Inês Viana;
2011 – Show do CD “Verônica Ferriani” pela Virada Cultural Paulista, em Santa Bárbara D’Oeste;
2011 – Show do CD “Verônica Ferriani” nas Feiras do Livro de Ribeirão Preto e São Joaquim da Barra;
11196322_1006926126014073_8877783861187632134_n2009 – Projeto “Alô, alô?: 100 Anos de Carmem Miranda” nos CCBBs RJ, SP e Brasília, concebido e dirigido por Luís Filipe de Lima, com participações de Roberta Sá e Pedro Luís, Verônica Ferriani e Pedro Miranda, Eduardo Dussek e Rita Ribeiro, Marcos Sacramento e Beatriz Faria, além de comentários de Ruy Castro e Sérgio Cabral;
2008 – Verônica Ferriani e Maestro Spok. Temporada no Bar Frida Khalo, Recife (PE);
2008 – Verônica Ferriani. Palco das Meninas, Virada Cultural, São Paulo (SP);
2008 – Verônica Ferriani. Virada Cultural Paulista, Ribeirão Preto (SP);
2008 – Verônica Ferriani. Feira do Livro, Ribeirão Preto (SP);
2008 – Verônica Ferriani, Chico Saraiva e Francis Hime na Série Encontros. Sesc Vila Mariana, São Paulo (SP);
2008 – Verônica Ferriani. Projeto Realeza nos trópicos no CCBB, ao lado de Fernando Deghi – São Paulo (SP);
2007 – Verônica Ferriani e Moska. Projeto “Samba de Breque e outras bossas”s, nos CCBBs – Rio de Janeiro (RJ) e Brasília (DF). Também integraram o projeto: Jards Macalé e Pedro Luís, Leny Andrade e Nei Lopes, Soraya Ravenle e Marcos Sacramento.
2007 – Verônica Ferriani, Elton Medeiros e Carlinhos Vergueiro. Projeto “Quinta o samba é lei”, no SESC Santana, São Paulo (SP).
2007 – Verônica Ferriani, Tom Zé, Marcelo D2, Rômulo Fróes, Wado, entre outros. Projeto “É samba, sim!”, no SESC Pompeia, São Paulo (SP).
2006 – Verônica Ferriani e Moacyr Luz. Projeto “Samba Guardado”, no CCBB – Rio de Janeiro (RJ). Curadoria: Luís Filipe de Lima; também integraram o projeto: Nei Lopes, Marcos Sacramento e Wanderley Monteiro, Cristina Buarque e Alfredo Del Penho, Monarco e Tantinho.
2005 – Verônica Ferriani, shows de Chico Saraiva pelo Projeto Pixinguinha em Brasília (DF), Anápolis (GO), São Luís (MA), Manaus (AM), Santarém (PA), Macapá (AP) e Boa Vista (RR); SESC Pompeia, São Paulo (SP).

Quando despertou seu interesse pelo samba raiz?
Sempre gostei de samba, mas meu contato com o samba raiz veio primeiro pelos discos de João Nogueira e Clara Nunes. O samba estava numa daquelas fases que volta com força, ressurgindo na Lapa carioca e na Vila Madalena e periferia de São Paulo. Beth Carvalho viu meu show com Chico Saraiva no Rio e me indicou à primeira temporada, no Traço de União, em SP, onde abria os shows de membros da Velha Guarda do samba, me apaixonando de vez pelo gênero. A partir daí vieram convites para temporadas no Ó do Borogodó (SP) e Carioca da Gema, casas tradicionais do gênero, depois convites diversos a projetos especiais e festivais.
As melodias do CD “Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio” são todas de sua autoria?
Sim. Instigada pela vontade de inventar minhas próprias histórias, entre 2010 e 2012 escrevi cerca de 30 canções dedicadas ao tema amoroso, talvez o mais universal deles, mas com um olhar feminino século XXI, que fugisse às obviedades do amor platônico ou romântico exagerado. Destas, selecionamos 11 canções, gravadas em 2013 neste meu primeiro disco autoral.

10246773_773120586061296_6066462624580426042_nNesse CD você conta com parcerias fundamentais na produção. Quando o CD foi lançado?
Neste disco conto com muitas parcerias importantes, músicos de primeira linha que criaram juntos os arranjos. 2 parceiros foram fundamentais: Marcelo Cabral e Gustavo Ruiz, produtores musicais do disco, músicos importantes da nossa geração que ajudaram a alinhar e conceituar a ideia que tinha, desde a escolha do repertório à sonoridade.
O disco foi lançado no final de 2013, portanto estamos já no 2o. ano de turnê. Desde então percorremos cerca de 40 cidades, dentro e fora do Brasil, lançamos o disco também com uma edição japonesa e seguimos em turnê ainda todo este ano.

Foi difícil selecionar as músicas?
Foi natural, escolhemos as melhores canções, ou aquelas que estavam mais prontas, pois meu processo de finalização às vezes se dá gradualmente.

As melodias são somente samba ou optou por outras influências musicais para compor esse trabalho?
Quem ouve meu disco sabe que o samba está presente apenas nas entrelinhas, nas divisões rítmicas e swings, mas não é uma relação óbvia. O samba sempre foi minha linha mestra dentro da música brasileira, o gênero base de minha relação com nossa música. Mas, assim como a maioria dos artistas de nossa geração, tenho influência de gêneros diversos, desde a música regional brasileira à música africana, latina e até o rock inglês. Sou também muito influenciada pelo Tropicalismo e pelos artistas da minha geração.

A cumplicidade entre intérprete e músicos faz a diferença no resultado final?
Sempre, a música é como uma conversa e pra isso é importante que exista sintonia, que se jogue como um time.

Esse é seu segundo CD. Quando gravou o primeiro?10577138_824494330923921_4790815729855118118_n
Lancei meu primeiro disco em 2009, com regravações de músicas menos conhecidas de compositores consagrados, como Paulinho da Viola, Gonzaguinha, Assis Valente, João Donato, Cassiano, entre outros.

Além dos trabalhos solos, você gravou outros CDs?
Gravei 2 projetos coletivos: Sobre Palavras, gravado em 2009 em parceria com Chico Saraiva (músicas, violões e arranjos) e Mauro Aguiar (letras), e um disco com a Gafieira São Paulo, que nos levou à vitória no 23º Prêmio da Música Brasileira, na categoria melhor grupo de samba.

Sua trajetória musical consiste numa bagagem impressionante, dividindo o palco com grandes nomes da MPB. Foram muitos, mas poderia citar alguns?
Tenho tido oportunidade de aprender de perto com alguns de meus ídolos, é um privilégio. As principais parcerias foram com Toquinho, Beth Carvalho, Ivan Lins e Mart’nália.

Inclusive divide o palco, como convidada nos shows do Toquinho?
Tenho participado de shows dele desde 2010, esta semana indo ao Norte do país para shows em Belém, Manaus e Boa Vista. É bacana porque além de tocar o repertório do show dele, ele abre espaço pra que eu também cante minhas canções.

O Projeto Novas Vozes do Brasil/ promovido pelo Itamaraty, te levou a vários países, inclusive o Japão. Como foi sua estadia aqui na Terra do Sol Nascente?
Inesquecível, seja pelo público caloroso e interessado em nossa música brasileira, seja pela seriedade profissional das equipes que nos receberam, seja pela gastronomia e pela religiosidade. Foram 2 semanas e 6 shows em 5 cidades: Tóquio, Kamakura, Yamagata, Nagoya e Fukuoka.

O que mais gostou e o que achou estranho?
O que mais gostei foi do público! Estranho pra gente é o tamanho dos quartos de hotel, já que estamos acostumadas no Brasil com espaços mais amplos.

Quais foram os outros países onde se apresentou?
Com o disco autoral nos EUA, Portugal e Israel. Com o disco anterior também em Portugal, EUA, Espanha, Colômbia, Rússia, entre outros.

Verônica, qual sua opinião sobre a nova geração da MPB que está surgindo, e quem você acha que tem se destacado mais?
Em minha opinião, a nova geração tem como características principais a influência de gêneros diversos, bem como uma produção musical com liberdade, já que somos músicos independentes. O fato de haver muitas pessoas novas produzindo material, compondo, gravando e se reinventando, faz com que se instiguem entre si, gerando uma produção em crescimento exponencial em quantidade e qualidade.
Gosto dos trabalhos da Céu, Rodrigo Campos, Luisa Maita, Karina Buhr, Criolo, entre outros.

Como vê o momento atual da música no Brasil?
Falar de música no Brasil é algo amplo, pois envolve vertentes diversas. No meu segmento, formado por artistas influenciados principalmente pela MPB, existe um público menor do que na geração que consagrou o gênero, mas cativo, e uma série de equipamentos e editais governamentais ou de instituições particulares – SESCs, SESIs – a nosso favor, com premiações e apoio para que sigamos essa formação de público mantendo a liberdade criativa, já que não há mais muitas rádios ou programas de TV abrindo espaço a um tipo de música menos comercial. Em termos de criatividade, este segmento traz uma geração extremamente livre, influenciada pela música do mundo todo, e por isso muito variada nas influências. A internet ampliou muito os horizontes, graças à facilidade de acesso a sons que antes nunca chegariam por aqui.

Algum projeto novo ou novidade para os fãs da Verônica Ferriani?
Estou começando a pensar já no próximo disco, uma sequência deste disco autoral, mais ligado ao samba, tendo como pano de fundo uma visão feminina sobre a metrópole.

Terminamos por aqui. obrigada

Da Redação by Cleo Oshiro

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