Marília Barbosa: O retorno de uma grande intérprete. Marília Barbosa é cantora e atriz, com um histórico fascinante em novelas, seja atuando ou como cantora das trilhas sonoras de várias histórias da teledramaturgia brasileira que foram grandes sucessos da tv. Marília foi a primeira contratada da gravadora Som Livre (1971), numa época em que as trilhas sonoras eram encomendadas à compositores e gravadas na própria Som Livre. Ela foi intérprete de inúmeros sucessos de telenovelas como Manequim (“O Cafona”), Tia Miquita (“Minha Doce Namorada”), Destinos (“O Semideus”), Uma Rosa em Minha Mão (“Fogo Sobre Terra”), Amar, Amar (“O Grito”), Meu Poeta, Minha Vida (“O Feijão e o Sonho”), Caso Você Case (“Saramandaia”), O Circo, Não Interessa, e À Sombra dos Laranjais (três músicas na mesma trilha, em “À Sombra dos Laranjais”), Eu Dei (“Nina”), Olha (“O Astro”) e Antes Que Aconteça (“Dancin’ Days”). Atualmente ela vive uma vida tranquila num sítio em Poços de Caldas-MG, mas devido a tantos pedidos, o amor pela música falou mais alto e ela está retornando com disco novo na praça, sob a produção dos produtores Zell e Samantha Stefanny.

Marília Barbosa, você é a única mulher artista que vem de uma família de homens valorosos que serviram a nação. É verdade que um dos seus irmãos desapareceu durante uma missão?

Sim, meu irmão mais novo, Rui Barbosa Nunes desapareceu em 20 de Setembro de 1984, numa “Missão de Interceptação Supersônica”, treinamento de guerra.

Meu pai foi herói de guerra, recebeu a Medalha do Pacificador, meu irmão mais velho, Gilmar Barbosa Nunes, é coronel da FAB, piloto de caça no Brasil e graduado na Base Aérea de Edwards (base de formação de astronautas nos USA) como Piloto de Prova.

Por conta disso, gravei duas versões no novo disco, “Piloto apaixonado” e “Pilot in Love” em homenagem aos meus irmãos.

01 capa oficialVamos falar da artista. Aos 9 anos você ingressava no Clube do Guri, mas foi na rádio que tudo começou?

Sim, em rádios pequenas dos anos 50. Em 1959, fui cantar na Rádio Nacional, no Programa do Renato Murce, esposo da Eliana, a grande estrela dos filmes da Atlântida. Mas o Clube do Guri foi minha mãe mesmo quem me levou, no mesmo ano.

Durante anos você trabalhou em publicidades de estúdio?

Sim, durante 11 anos direto, mas fazer propaganda é uma função corriqueira na carreira de ator, porém naquela época, publicidade era o que eu mais fazia, isto é, de 1962 até 1973.

Quando foi sua estreia na TV Globo?

1965, assim que a Globo inaugurou, cantava nos musicais e era conhecida e anunciada como “A Bonequinha da Globo”.

No início da carreira, diziam que você queria abraçar tudo ao mesmo tempo. Havia cobrança das pessoas em relação a isso, achando que era indecisa?

Não, eu não queria abraçar tudo ao mesmo tempo, apenas trabalhava no que tinha talento e estudo para tal e a cobrança não indicava indecisão da minha parte, até porque não sou absolutamente indecisa, o que havia era mesmo inveja, lamentavelmente, porque naquela época eu era a única cantora profissional que também era atriz profissional.

Na novela Nina-TV03 ficha técnica oficial Globo, além de fazer parte do elenco, você era a cantora de uma das trilhas sonoras? Mas teve trilhas sonoras em outras novelas?

Sim, em “Nina” eu fazia Mazinha, uma cantora e atriz do teatro burlesco dos anos 20. Ah, e gravei “Eu dei”, de Ary Barroso para a trilha da novela e ganhei disco de Ouro como a música mais executada no Brasil naquele ano.

Meu Deus, quanto as outras trilhas sonoras são muitas, não vou lembrar de todas. Mas começou com Saramandaia.

Você fez parte dos humorísticos da emissora. Foi opção sua atuar em humorísticos?

Sim, foi escolha minha. A novela “Nina” havia terminado e eu ainda tinha quase 1 ano de contrato e então, pedi para que a linha de show da casa pedisse minha transferência de contrato de novelas, para a linha de shows sem ônus para eles.

Sua trajetória é repleta de fatos interessantes, onde na novela O Astro, existiu uma história envolvendo trilha sonora. Pode nos contar?

Sim, eu e a Sonia Braga éramos amigas e ela me deu de presente um LP do Roberto com a música que ela mais gostava, “Olha”, dele e do Erasmo, aí eu pedi ao Guto Graça Mello que me deixasse gravar essa música para o meu personagem porque eu queria fazer essa surpresa para a Sonia.

Foi nesse mesmo ano que grava seu primeiro LP?

Sim, o “Manifesto”.

Aliás, 1978 foi um ano agitado na sua vida?

Foi mesmo, um ano muito feliz!

Mas o pior aconteceu nos anos 80?

Acho que tive uma década de inferno astral pessoal (rsrs). Perdi pai, irmão, minha saúde estava um horror, estive à beira de ir embora de vez, mas não eram esses os planos do “mundo espiritual” para mim.

Mas surgiu um anjo na sua vida para mudar isso?

Já tive e tenho alguns anjos em minha vida.

Em 1985 foi a maior loucura , onde chegou a perder peso. Esteve doente com tantas atividades acumuladas?

Perdi muito peso por conta do desaparecimento do meu irmão, foi devastador demais…

Por que uma artista tão talentosa, com uma bagagem artística tão rica, resolveu se afastar da carreira?

Não me afastei da carreira, me afastei do Rio em 1985. Em todos os lugares em que eu ia cantar havia tanta fumaça de cigarros que eu decidi não mais cantar em shows noturnos, mas o desaparecimento do meu irmão me desiludiu do mundo em que eu estava acostumada e eu decidi que precisava de outro mundo melhor para viver, daí, fui morar no meu sítio no meio da Mata Atlântica, sem água corrente, sem luz, sem telefone, sem vizinhos…584_624360994273392_1777249363_n

A vida artística trouxe mais alegrias ou tristezas?

Tudo junto, a vida artística é assim.

Em 87 retorna ao teatro. Chegou a dirigir espetáculos?

Sim, em “Dona Rosita, a solteira”, de Federico Garcia Lorca.

Dirigi apenas os meus musicais.

É verdade que nessa época levava produtos do sítio para vender para o pessoal?

Sim, Marieta Severo, Analu Prestes, Dina Sfat foram algumas pessoas que compraram meus produtos.

E de repente uma nova tragédia abate a família?

Sim, perco meu primeiro sobrinho Fabiano de 22 anos, em outro acidente de avião na família.

No final de 1993 você retorna ao teatro com uma missão especial, onde se comemorava os 50 anos da modernidade no teatro Brasileiro?

Sim, fui atriz convidada da UNIRIO, por ser egressa da Escola de Artes Cênicas, para estar no elenco de formandos da faculdade em “O Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues, direção de Heloisa Toledo Machado, doutora em Artes Cênicas pela Sorbonne.

Você teve experiências traumáticas, onde foi vitima de bandidos. Depois desses acontecimentos, você se mudou para os EUA. Como foi essa experiência vivida, na terra do Tio Sam e quanto tempo durou?

Horríveis, não é bom lembrar.

Saí do Brasil arrasada, deixei minha casa no sítio por conta da administração da minha mãe com dois funcionários para cuidar e fui “Descansar a cabeça”, mas comecei a ser tão solicitada para trabalhar que resolvi pedir permissão de trabalho e para isso, contei com o apoio de amizade e confiança de André Alves, empresário brasileiro de sucesso em NY que foi meu sponsor. Fiquei três anos, não aguentei o frio e minha mãe cobrava minha volta para cuidar de minha própria casa.

Na volta ao Brasil, foi descansar ou já se entregou ao trabalho?

Fui logo convidada para fazer “Aquarela do Brasil”, com Tiago Lacerda e Maria Fernanda Cândido.

Não sentia saudades dos EUA?

Não sou de sentir saudades, só ando pra frente.

Quanto tempo se1959773_643935358988567_1951626638_nu filho viveu nos EUA?

Quase 15 anos, fez todo seu estudo e formação lá, o inglês é sua segunda língua.

Ele tem um programa de rádio?

Ele trabalha com a querida Carol Affonso em “Carolonline”, o primeiro programa on line do sul de Minas Gerais, na TV Poços, é DJ e apresentador/entrevistador.

Você perdeu sua mãe em 2006. Como encarou mais essa perda na sua vida?

Não há como descrever a perda de uma mãe, o tempo fala muitas coisas e muda essas coisas também.

Minha mãe faleceu em 2 de Abril de 2006, falência múltipla. Era formada em Alta Costura e foi perfeita em seu papel de “esposa dedicada e mãe extremosa”, como meu pai gostava de dizer.

Em 2007 você retornou ao teatro para protagonizar um espetáculo?

Sim, “Araci Cortes, a Rainha da Praça Tiradentes”, de Alexandre Guimarães, direção de Rogério Fabiano e Claudio Lins.

Como foi participar da obra de Monteiro Lobato, O Sitio do Pica-pau amarelo-TV Globo?

A melhor personagem de minha carreira, a mais instigante e criativa. O convívio com a equipe foi um dos melhores de minha vida.

Em 2010 decidiu se afastar novamente da vida artística. Não sentia falta do glamour que envolve os artistas?

Não me afastei, mudei para Minas Gerais para morar perto da família e para construir minha casa na chácara que comprei aqui, mesmo assim, fiz alguns belos trabalhos nesse período.

Não, sou muito focada no que estou fazendo. Hora de fazer casa é hora de fazer casa! É como construir um teatro fisicamente. De uma maneira concreta, construí um teatro.

E quanto aos fãs que sempre acompanharam a sua carreira?31165_1503237223773_3167395_n

Continuam, mais do que nunca, fiéis, leais a amados, posso perceber isso através das redes sociais.

Por que o retorno somente agora e quem foi o responsável pela sua volta?

Samantha Stefany e Zell Stefany, tinham seus planos e ela confiou em sua intuição de que eles tinham que me encontrar e me encontraram através do Facebook.

Esteve no Programa do Ratinho recentemente. Como foi estar de volta a TV?

O bom foi estar de volta num programa líder de audiência, com um líder carismático, simples, alegre e amado por seus fãs. Uma equipe formidável, simpática, gentil e competente (o segredo do sucesso do programa).

Fale sobre o novo CD e das expectativas para esse novo trabalho?

É bom, muita qualidade artística, criativa e participativa. Muita paixão em tudo, muita alegria e festejos. As expectativas têm que ser boas, agora é só trabalhar, trabalhar e contar com os amigos e fãs para que as músicas cheguem longe.

Para encerrar, quais são os projetos para essa nova fase da sua vida?

Viver feliz, aí tudo vai indo bem.

Obrigada Marília Barbosa.

Cleo, muito obrigada à você, por sua gentileza e dedicação à essa sua amiga.

Receba meu melhor abraço e todo o meu carinho.

Marilia Barbosa.

Da Redação by Cleo Oshiro

https://youtu.be/LbXGIxVcO_Q

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