Juliana Areias lança o CD “Bossa Nova Baby” na Austrália. Juliana Areias, nasceu em São Paulo, morou em Brasilia-DF, Salvador-Bahia, Genebra-Suiça, Auckland-Nova Zelândia e há alguns anos vive na tranquila cidade de Perth-Austrália. Com mais de um ano de concertos esgotados consecutivos em torno da Austrália, ela já é uma referência na cena musical local e no exterior.
Sua música abraça várias tonalidades da plenitude da música brasileira e sua ressonância com o jazz e outros estilos musicais internacionais.
Dona de uma voz genuinamente brasileira, senso de groove, carisma e uma presença de palco muito pessoal e apaixonante que são suas marcas registradas, ela foi introduzida pessoalmente pelos fundadores da Bossa Nova, na época que era uma adolescente pelo lendário historiador musical brasileiro e jornalista Ruy Castro, que a nomeou de “A Bossa Nova Baby”. Esse aprendizado direto e experiência única tornou-se a sua inspiração para se tornar uma cantora profissional.
Sempre trabalhando no circuito de música, sua carreira inclui apresentações em grandes festivais internacionais, como o reverenciado Montreux Jazz Festival, Festival de Auckland, e da Copa América (NZ).
A maioria das performances recentes incluem um concerto em 505 em Sydney, The Kings Park Festival, The Perth International Jazz Festival, exposição de Nova York “Van Gogh, Dali and Beyond” no The Art Gallery of Western Austrália, e Ritmo Festival at The Darling Harbour, com um público de mais de 30.000 pessoas.
Juliana Areias gravou para o poeta, compositor e diplomata brasileiro Márcio Catunda, seis de seus álbuns produzidos, respectivamente, na Suíça (Anima Lírica -1997), Bulgária (Crescente – 2000), Brasil (Mística Beleza – 2003 / Itinerário Sentimental – 2008), Espanha (Agua de Flores – 2009) e Portugal (O Jardineiro da Vida – 2010)
Juliana, essa relação que você tem com a música vem da infância?
A relação com a música sempre existiu. Tem uma foto linda dos meus pais ouvindo disco na vitrola, onde a mamãe está sentada no colo do papai, bem antes de eu nascer. Devo muito aos meus pais por me levarem a shows ao vivo, desde quando eu era um bebê. Papai, era um músico de alma, não de profissão – canta e toca vários instrumentos e quando nasci em 7 de fevereiro de 1975, num sábado de carnaval, compôs uma marchinha pra minha chegada.
Além dos seus pais, quem mais você teve como influência musical?
Minhas maiores influências são Rita Lee, Tom Jobim, Djavan, Lenine, Leny Andrade, Leila Pinheiro e Rosa Passos.
Quando se apresentou cantando pela primeira vez?
Como cantora profissional, considero o meu primeiro palco, as areias da praia do Farol de Itapuã, em Salvador, mas o meu primeiro “palco amador” como cantora foi aos 5 anos, quando gostava de ficar de pé ao lado do motorista de ónibus, em cima daquela caixa preta onde ficava o motor, cantando a música”Lança Perfume” Esse foi o meu primeiro palco. rs
Além de cantora, foi atriz?
Sim, quando tinha 13 anos. Em 1988 comecei a trabalhar como atriz profissional pelos palcos de São Paulo, em peças dirigidas por Walcyr Carrasco e Luiz Gustavo Alves.
Você conheceu e conviveu, com grandes nomes da Bossa Nova na adolescência?
Sim, graças ao meu querido Ruy Castro, autor do livro ” Chega de Saudade – A historia e as historia da Bossa Nova”, pude conhecer e conviver nos bastidores do show Chega de Saudade, baseado no livro, quando tinha entre 15 e 16 anos (1990-1991). Conheci Ronaldo Bôscoli, Luizinho Eca, Johnny Alf. entre outros. Foi uma época essencial na minha vida e na minha formação musical, onde se confirmou o desejo de me tornar cantora e compositora.
Ouço bossa nova desde antes de nascer. Quando criança gostava de cantar “O Pato” e “Jou Jou Balanganda” acompanhando João Gilberto na vitrola de meu pai. Quando meus pais resolveram se separar, essa conexão ficou adormecida por um tempo, até que um certo dia ouvi tocando na abertura de um programa na tv “Chega de Saudade”. Fiquei completamente hipnotizada, tentando me lembrar de onde conhecia aquela musica e a partir daquele dia passei a pesquisar sobre a bossa nova, onde passava minhas tardes na biblioteca e discoteca do Centro Cultura de São Paulo, após sair da aula. Período pré goggle e internet obviamente. Foi assim dos 13 aos 15 anos até que como disse ao Ruy Castro, quando fui apresentada a ele durante um evento comemorativo dos 30 anos da Bossa Nova no Shopping Morumbi, – Que ele havia roubado minha ideia, publicando o seu livro Chega de Saudade antes de mim (rs). Obviamente que ele fez um trabalho muito melhor do que eu poderia ter feito. Nos tornamos amigos desde então e até hoje sou uma grande fã.
Vivo ao lado de um companheiro maravilhoso, o artista australiano Geoffrey Drake-Brockman, sou mãe do Jobim e da Lilás, nomes obviamente em homenagem aos meus dois compositores favoritos: Tom Jobim e Djavan. Meus filhos nasceram na Nova Zelândia e vivemos em Perth desde o final de 2007.
Perth é considerada um dos lugares mais isolados do planeta, mas também é conhecida por sua grande influência musical. Foi por essas razões que optou por viver ai?
Quando nos mudamos pra Perth, viemos para realizar o sonho do meu ex- companheiro, que é o pai dos meus filhos, e além disso ela é a cidade mais ensolarada da Austrália e tem menos de 2 milhões de habitantes. Amo a qualidade de vida desse lugar, as praias são praticamente desertas e a arte super contemporânea do meu amor, o artista australiano Geoffrey Drake-Brockman, estão espalhada em forma de esculturas robóticas pela cidade.
Adoro Perth e a qualidade da cena musical existente aqui e principalmente sua tradição de Jazz, e por ser a metrópole mais isolada do mundo, tudo isso fica muito mais surpreendente.
Em Perth temos a WAAPA, a melhor faculdade de Jazz da Austrália, e uma das mais bem conceituadas do mundo e isso faz com que Perth atrai e exporta talentos num fluxo continuo.
Na minha opinião, todo palco é sagrado e cada plateia tem uma vibração única, mas quando os shows são para grandes plateias tem a característica de serem mais vibrantes, intensos, onde a emoção e a alegria são maiores. Esse ano estarei em Sydney novamente, dessa vez apresentando o show Bossa Nova Baby no Sydney Opera House no dia 8 de setembro, em evento comemorativo dos 70 anos de relações diplomáticas entre a Austrália e o Brasil. Será um show inesquecível.
Nas suas apresentações, interpreta apenas Bossa Nova, ou canta outros gêneros musicais?
Procuro apresentar nos meus shows, as múltiplas facetas da musica brasileira – bossa, choro, samba, baião, maracatu, rock brasileiro… com suas varias influências passando pelo jazz, rock, pop, blues, tango e etc… Costumo fazer shows de tributo aos meus compositores prediletos como Tom Jobim, Djavan, Chico Buarque, João Donato e Lenine.
As suas músicas são somente em português?
A maioria é em português, mas também tenho algumas composições em francês e inglês. Nesse primeiro álbum autoral que lancei, apresento 11 faixas em português e uma em inglês que fiz em homenagem a minha praia predileta na Nova Zelância, “Night in Takapuna”.
Morar no exterior, precisamente na Suiça, era meu sonho desde os meus 4 anos de idade. Sonho motivado pelo amor e saudades que tinha de uma ex-namorada do meu pai, a Marcia Viana, (minha amiga até hoje), que mudou pra lá ( na verdade ela mudou-se para a Suécia, mas eu achava que era Suiça) e sempre me enviava cartões e presentes de lá. Foi aos 4 anos que decidi: Quando crescer, vou viver na Suiça. Dito e feito, aos 21 anos, la estava eu. Mas confesso que a violência, injustiças sociais e instabilidade financeira do Brasil, também pesaram na decisão adulta.
Durante um tempo, você trabalhou como assistente de pesquisa em música e cultura?
Fiz Belas Artes a UFBA, quando morava no Brasil, curso que literalmente abandonei quando decidi ir cantar na Suiça aos 21 anos de idade. Na Suiça fiz canto-jazz no “Conservatoire de Geneve” e na “Maison de la Musique”. Foi em Auckland que me tornei assistente de pesquisa especializada em musica e cultura brasileira de 2000 a 2007, trabalhando no projeto chamado “Free Samba” da University of Auckland. Projeto fundado e dirigido pelo acadêmico Dr. Christopher Naughton, Phd em Educação Musical. O resultado desse projeto é descrito no livro publicado por ele chamado – “The Thrill of Making a Racket: Nietzsche, Heidegger and Community Samba in Schools”
A Bossa Nova e o Jazz tem um público bem maior no exterior do que no Brasil?
O que acontece é que Bossa Nova e o Jazz não são gêneros de musica comercial e há controvérsias na afirmação de que já foram um dia. Isso significa, que o publico de bossa nova e jazz nunca foi a maioria, mas sempre um nicho particular. Se isso é uma desvantagem em termos de não haver “grandes mutidões”, a grande vantagem é que são gêneros que independem de moda e da midia. Quem gosta de bossa nova e jazz , gosta pra sempre e ponto final. Existe também um fator maturidade. Conversando uma vez sobre isso com alguns músicos amigos do Circo du Soleil que moram em Nova York e estavam em turnê pela Austrália, eles me relataram que a maioria dos jovens em Nova York – que é considerada a capital do jazz – não costumam ouvir jazz, até atingirem uma certa idade. Eu ouvia e gostava de bossa nova desde criança, mas sou uma exceção, dai o apelido “Bossa Nova Baby”. Gosto musical em geral tende a evoluir com a idade. O mesmo acredito que vale, por exemplo, para intérpretes do nível do Chico Buarque, onde para ouvir e apreciar toda a beleza e profundidade das letras do Chico, na minha opinião, o nosso melhor letrista – é preciso passar por um bocado de experiências na vida.
A Cultura Brasileira é uma das mais fascinantes do mundo, por causa justamente da sua mistura, pela capacidade que temos de manter nossas raízes e ao mesmo tempo assimilar todo tipo de influencia devolvendo ao mundo uma manifestação artística nova, criativa , num auto se recriar infinito. Nesse processo , muito do que é criado é passageiro e de qualidade discutível, mas desse terreno fértil e livre da criatividade popular também são plantadas algumas sementes que tem força pra vingar. Em geral, pra maquina comercial da midia interessa mais a quantidade que pode gerar lucro do que a qualidade de conteúdo e valor artístico. Dai o resultado que temos. No entanto, repito, o Brasil é sempre muito mais do que o que está representado na midia e sempre há espaço pra tudo, basta apenas saber procurar e sintonizar aquilo que lhe interessa. Acredito que pra todo movimento, existe um contra movimento. Vale a pena sempre estar atento. Melhor que reclamar da midia comercial é criar e apoiar alternativas, como essa aqui, para o publico que seja interessado.
Bossa Nova Baby é seu primeiro álbum autoral. Quando e onde foi o lançamento?
O Bossa Nova Baby é o meu primeiro trabalho autoral, lançado esse ano. O nome do CD se refere ao meu apelido musical e a minha maneira de cantar. O disco é bastante eclético, onde apresento desde bossas e sambas até chorinho, baião, jazz, tango , o funk “Mare Cheia” e o Pop “ Como vai”. É um álbum com doze faixas, que foram gravadas com as participações de alguns dos melhores músicos de jazz da Australia e com parceiros do Brasil, Suiça, Nova Zelândia e Austrália, onde aconteceu a celebração da minha trajetória musical desses quase vinte anos de carreira internacional. A canção mais nova do álbum, “Belas Artes” composta durante o período de gravação, é um belíssimo choro em parceria com Doug de Vries, virtuoso violonista parceiro também de Yamandu Costa. Belas Artes é dedicada ao meu amor Geoffrey Drake-Brockman e suas obras de arte. No álbum também tenho canções dedicadas a São Paulo (Dia a dia), Rio de Janeiro (Flecha) e Salvador (Meu Lugar). “Inocência” é dedicada a alma feminina. Dedico ainda os sambas “Ultima canção de um amor” a Genebra e “Missão” a Perth e a minha “família” por aqui, meus queridos amigos que fazem aula de samba de gafieira comigo, uma das minhas grandes paixões.
Houve parcerias para que o CD fosse concluído?
Para poder realizar o Bossa Nova Baby, com a qualidade com que foi produzido, foram dois anos de projeto, contando com patrocínios do Departamento de Cultura e Artes do Governo Australiano e também apoio de fãs e empresas pelo mundo todo, com destaque a Metax no Brasil, que participaram na minha campanha de financiamento coletivo no ano passado.
Você participou de um festival agora em maio. Alguma novidade para os próximos meses?
Sim. Estive no dia 31 de maio apresentando o CD Bossa Nova Baby ao vivo no Perth International Jazz Festival e em 8 de setembro, estarei no Sydney Opera House e no dia 8 de outubro, estarei me apresentando no Ronnie Scott´s Jazz Club.
Espero poder realizar shows em vários países e uma turnê pelo Brasil, prevista para 2016.
Gostaria de encerrar essa entrevista com o poema que escreveu quando saiu do Brasil para viver no exterior?
Eis o poema ainda não musicado, que escrevi em 1996 em Salvador, Bahia, ano em que sai do Brasil:
Sonho Brasil
(Salvador-BA, Brasil, abril de 1996 – 21 anos)
Eu, que não sou Chico, nem Francisco
Não sou Tom, nem Antônio
Apenas brasileira
Querendo partir
Pra Buarque de Holanda
Ou qualquer outro lugar
Dizer adeus Copacabana, pricesinha do mar
Onde meu barco naufragou, exausto de lutar,
de tanto remar e nunca chegou
Se navegar é preciso, viver também
Num lugar de fala estranha,
Fora do meu país,
Deserto de mim
Minha língua é meu cantar!
Onde, por ironia, no fim
Longe do Brasil, mais perto de vivê-lo
E pensando ter perdido o meu mar anil
É que vou reconhecê-lo
Nos olhos de outros brasileiros
Que nas ruas do mundo eu cruzar
Brasileiros como eu
Que não são Chico, nem Francisco
Não são Tom, nem Antônio
Mas abriram mão do Brasil
Pra não abrir mão dos seus sonhos
Sonho Brasil
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https://youtu.be/t0_a8RltTdI
Da Redação by Cleo Oshiro
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