Claudya: A grande intérprete da MPB. Claudya de Oliveira Rallo ou Claudia? Sim, o nome mudou, mas apenas numa pequena vogal onde o i foi substituído pelo y, mas o talento continua o mesmo e para quem não sabe, ela foi a primeira cantora a brilhar nos palcos brasileiros interpretando Evita Perón no musical que foi um grande sucesso, onde recebeu elogios por sua performance de nada menos que os produtores Robert Stigwood e David Land.Claudya nasceu no Rio de Janeiro em 10/5/1948 e mora em São Paulo, onde continua fazendo shows e encantando a todos com sua bela voz. Essa cantora maravilhosa tinha tudo para ter uma carreira promissora, mas quando fez sua estreia na música aos 17 anos, ela se viu numa posição desconfortável onde a rotularam de inimiga e rival da cantora Elis Regina, e mesmo inocente ficou marcada e sua carreira comprometida, quando tudo o que queria era cantar e mostrar o seu talento. Claudya sempre fez questão de esclarecer que não tinha nada contra Elis, mas nunca conseguiu que o mal causado a ela e a sua carreira fossem reparados, apesar da injustiça que sofreu há décadas atrás.
Claudya, sua carreira artística teve início em programas de calouros?
Sim. Cantei em alguns programas de calouros, como A Hora da Buzina do “Chacrinha” e no Silvio Santos, e aos 13 anos iniciei como crooner de uma banda cantando em clubes, da cidade onde morava na época. É um momento crucial, sem memória, em que a riqueza da nossa música, parece não mais existir. Não ouvimos mais: O samba, o baião, o maxixe, o maracatu o frevo, o samba de roda, o chorinho. Com certeza hoje somos um povo triste e sem identidade musical.
A sua grande chance aconteceu na TV Record?
Em 1965 fui fazer um teste na emissora para a equipe do programa de maior audiência na época,“O Fino da Bossa” onde tive a oportunidade de ensaiar com a orquestra da emissora, regida pelo maestro Ciro Pereira a música “Canção do Amor Demais” de Tom Jobim, com arranjo de Waldir de Barros. O programa tinha a parte dos amadores e a dos profissionais, mas me sai tão bem no ensaio que me colocaram para me apresentar com os profissionais e fui contratada em seguida. Foi assim o meu debut profissional.
Claudya, o episódio envolvendo você, a Elis Regina e o produtor musical Roberto Bôscoli há tantos anos atrás, prejudicou sua carreira?
Prejudicou muito, porque eu estava iniciando a carreira e me vi em uma grande pol
A culpa foi da imprensa que fez um jornalismo sem nenhuma credibilidade, de um mal entendido ou de uma rivalidade entre você e a Elis Regina como muitos acreditam até hoje?
Não sei a quem atribuir a culpa, mas muitas pessoas estiveram envolvidas nessa trama que só agora depois de 50 anos, foi esclarecida com a nova biografia da cantora Elis Regina escrita pelo jornalista Julio Maria.
Seu início de carreira prometia um futuro brilhante, se não fossem os incidentes durante seu percurso, tanto é que foi convidada para substituir a cantora Nara Leão num espetáculo?
Eu estava iniciando na carreira artística quando surgiu o convite para substituir a Nara Leão no espetáculo “Liberdade Liberdade”, que foi escrito pelo Millor Fernandes e sob a direção de Flavio Rangel. Foi uma experiência encantadora trabalhar ao lado de grandes ícones como Paulo Autran, Tereza Rachel, Vianinha Filho (filho do Oduvaldo Viana), Toquinho e entre muitos outros grandes nomes. Foi um marco importante na minha carreira, onde ganhei prêmios como revelação.
Quantos CDs gravados ao longo da carreira?
Tenho mais ou menos 20 discos gravados entre vinis, compactos e cds. Aliás muitos desses vinis foram transformados em cd.
Você se apresentou em festivais realizados em vários países, inclusive na Grécia. Tem algum que marcou de maneira especial?
Ganhei 5 festivais consecutivos: Em Niterói, no Brasil canta no Rio, no Internacional da canção, no México no de la cancion latina, no da Grécia e Venezuela. Dois deles marcaram profundamente o do México quando o povo atirou flores e paletós no palco e no da Grécia quando o povo saiu nos dando vivas da arquibancada para as ruas de Atenas. Foram momentos importantes na minha trajetória artística, onde conquistei 5 prêmios no exterior e 2 no Brasil.
Mesmo a nova geração, que não teve a oportunidade de vê-la brilhando na TV no auge do seu sucesso, se rende ao seu talento, tanto é que o rapper Marcelo D2 sampleou um dos sambas que você gravou. Devido a esse trabalho, você voltou a ficar em evidência?
Sim a nova geração foi me descobrindo, até me descobrir por inteiro com o sampler do Marcelo D2 na música Deixa eu Dizer. Foi paixão a primeira vista, o que me deixa profundamente feliz depois de tantos anos no anonimato. Marcelo D2 sampleou a minha voz na música “Deixa eu dizer” de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza, gravada nos anos 70 e que voltou a estourar no mundo inteiro, nas pistas do Brasil e exterior e no filme “Velosos e Furiosos 5″.
É verdade que quando fez o musical Evita, produtores internacionais vieram ao Brasil para assistirem o show?
Os produtores ingleses Robert Stigwood e David Land estiveram assistindo a nossa montagem no teatro João Caetano no Rio e me denominaram a melhor Evita dentre todas as cantoras que fizeram a ópera no mundo.
Nossa estréia foi no Teatro João Caetano no Rio e eu considero que foi a estreia mais emocionante. Em São Paulo também foi muito bem, mas no Rio creio ter sido melhor ainda.
O espetáculo Evita, pode ser considerado um divisor de águas na sua carreira?
Sim, o espetáculo Evita com certeza foi um divisor de águas na minha carreira, afinal estava afastada da mídia há algum tempo. Os produtores tinham a autorização para realizar o espetáculo, mas faltava a cantora para ser a protagonista por ser necessário alguma que tivesse um alcance de vocal extenso. Quando fiz o teste já fui admitida por ter as características exigidas. No espetáculo eu cantava, dançava, interpretava e nem ao menos sabia que era capaz de fazer tais coisas. Evita contribui de maneira especial a minha carreira.
Você tem uma bagagem artística invejável, inclusive com apresentações aqui no Japão, na companhia do saxofonista Sado Watanabe. Quanto tempo ficou se apresentando no arquipélago?
Fiz uma temporada de 6 meses cantando em clubes, nigth clubes, em varias cidades do Japão, culminando com a gravação de um LP e um disco de vinil, patrocinado pela Toyota com uma propaganda do lançamento do primeiro carro Corolla em finais dos anos 60 e que teve muita repercussão na televisão japonesa. Gravei um LP e 2 compactos no Japão.
Em quantos países já se apresentou?
Apresentei-me em vários países: Japão, México, Cuba, Grécia, Venezuela, Marrocos, Itália, Portugal, Finlândia, França, Chile, Argentina, Estados Unidos (Los Angeles, Miami, New York etc).
No CD A Lua Luará, você interpreta canções do compositor e pianista finlândes Heikki Sarmanto, um profissional respeitado internacionalmente por suas obras sinfônicas?
Sim. o CD “A Lua Luará” com músicas de Heikki Sarmanto, foram letradas por Fernando Brant que infelizmente nos deixou recentemente.
Em 2011 você gravou “Senhor do Tempo-Canções Raras de Caetano Veloso”. Esse CD foi um trabalho mais voltado para um tema jazzístico?
“Senhor do tempo”, foi gravado em São Paulo com musicas raras de Caetano Veloso com arranjos e interpretações bem jazzísticas, algumas idéias partindo dos produtores. Procurei seguir à risca todas as orientações de repertório. As idéias de arranjos partiram de mim e do maestro.
Nos anos 70 você gravou duas músicas do Caetano Veloso que foram grandes sucessos. E trilhas sonoras para novelas, gravou alguma?
Gravei “Como dois e dois são 5″ e”Esse Cara” do Caetano que foram muito executadas em rádios. Quanto as trilhas sonoras tive algumas que foram “Uma noite a mais”, que era uma versão da música do Michel Legrand “Papa can you here me”, na novela Kananga do Japão/ TV Manchete…”Desacato” de (Antonio Carlos e Jocafi) na novela Bandeira 2/TV Globo…e uma versão minha de uma linda canção argentina “Esa Extraña Dama”, mesmo nome da novela transmitida pelo SBT/”A Estranha Dama”.
Seus discos tem o que há de melhor em qualidade musical, sem falar nos autores maravilhosos das canções que interpreta com uma voz digna de uma grande dama da MPB. Vale lembrar o CD “Claudya Canta Taiguara”. Você acha que esses autores que criaram canções tão lindas, estão esquecidos do publico e dos intérpretes da nova geração?
Graças a internet os trabalhos desses grandes compositores estão sendo resgatados e ouvidos pelo pessoal da mais nova geração que gosta e busca por esse estilo.
Para encerrar, você participou do Programa do Ratinho recentemente?
Sim, o Ratinho é um dos comunicadores que mais resgata os trabalhos dos nossos profissionais. Foi muito importante ter sido reconhecida, por todos os prêmios que ganhei, logo no início da carreira. Cada um desses prêmios tem uma grande importância na minha jornada artística.
Obrigada Claudya.
Da Redação by Cleo Oshiro
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