A fantasia em torno de carros voadores vem cativando a humanidade há décadas, incentivada por histórias em quadrinhos, livros de ficção científica, programas de TV e filmes.
Nos anos 1960, o desenho animado americano Os Jetsons tinha como cenário uma utopia futurista chamada Orbit City, onde moradores viviam em torres e se deslocavam em carros voadores. Esses veículos tinham uma capota de vidro em forma de bolha, um aspecto que também apareceria nos salões de automóvel de Detroit naquela época e nos designs de engenheiros independentes como Ed Roth, o Big Daddy, criador do Beatnik Bandit, e Dean Jeffries, o nome por trás do Mantaray.
Na década de 1970, a Landspeeder X-34 de Luke Skywalker também apostava no visual de bolha. Nos anos 1980, os spinners do filme Blade Runner, O Caçador de Androides foram desenhados pelo renomado ilustrador e futurista Sy Mead, que teria se irritado profundamente quando viu que suas fantásticas criações foram usadas em tons sombrios nas telas.
Em 2004, fui convidado por Gerry Anderson, criador dos seriados de TV britânicosThunderbirds e Espaço 1999, para desenhar uma nova versão do carro Spectrum Cheetah para o remake de Captain Scarlet. Não deveria ser uma máquina voadora clássica, mas sim um modelo que pudesse, por um curto período de tempo, decolar do chão para desviar de outros veículos e de obstáculos.
Foi um projeto muito gratificante, que me colocou em contato com um cineasta carismático e com um mundo onde nada é impossível.
No passado, de maneira geral, apenas os mocinhos possuíam carros voadores. Mas na série de quadrinhos Incognito, lançada pela Marvel em 2008, os vilões também tinham os seus, que eram inspirados em um Jaguar XKR.
Tentativas corajosas
Mas voltemos à realidade dos carros voadores. Será que os designers e engenheiros – e, de fato, toda a indústria automotiva – realmente descumpriram uma promessa feita aos indivíduos mais sonhadores?
A ideia de encher os céus com máquinas pilotadas por qualquer pessoa é bastante amedrontadora. E esses veículos multiuso, como o carro anfíbio, nunca se mostraram como bons meios de transporte.
Não se pode negar que houve tentativas corajosas. Em 1947, um ConvairCar Model 118, desenhado por Theodore P. Hall para a Consolidated Vultee, de San Diego, foi fotografado durante um teste de voo, mas nunca chegou a ser produzido em série.
O problema era essencialmente uma questão de peso: nas pistas, a “metade avião” do veículo enfrentava uma enorme resistência do ar; no céu, a “metade sedã” dificultava as manobras.
Mas isso não desanimou a Terrafugia, uma empresa sediada hoje no Estado americano de Massachusetts: em um salão aeronáutico em Oshkosh, no Wisconsin, em março de 2013, a marca exibiu o protótipo de seu carro voador, o Transition.
“Queríamos demonstrar como uma parte da tecnologia e da infraestrutura sendo empregada hoje está ajudando a tornar realidade aquele sonho dos Jetsons”, disse Carl Dietrich, CEO e co-fundador da Terrafugia.
Sem rodas
Para designers, o fato de não ter que se preocupar muito com rodas pode levar à criação de novos formatos e direções. Estudantes de design e profissionais mais experientes adoram essa liberdade, evidenciada na enorme quantidade de ilustrações de carros levitando que eles produzem.
Mas a realidade de colocar um carro para voar nunca parece tão bacana quando os protótipos são apresentados.
A exceção é, provavelmente, o Aerocar, dos anos 1960: uma maquininha simples e bonita que encolhia as asas ou simplesmente as deixava na garagem.
O modelo parecia tão convincente que até alguns planos originais para a construção do sistema de rodovias interestaduais americanas levavam em consideração acomodar carros voadores: os primeiros rascunhos mostravam uma pista de decolagem ao lado da estrada.
Ainda assim, o apelo de ser o pioneiro continua sendo muito grande para qualquer montadora. Dizem que os engenheiros da Toyota estariam elaborando um carro que não exatamente voaria, mas seria capaz de flutuar a poucos centímetros do solo, reduzindo o atrito e economizando combustível. (Sou um pouco cético em relação a esse conceito, já que provavelmente seria necessária mais energia para poder flutuar do que para superar o atrito do chão).
Enquanto isso, a Volkswagen da China fez uma pesquisa em 2012 para tentar descobrir quais veículos seus clientes gostariam de dirigir no futuro. Novamente, o carro voador foi a sugestão mais popular.
A Volkswagen propôs uma cápsula de dois assentos com levitação magnética, inspirada no trem Mag-Lev que liga o centro de Xangai ao aeroporto. Assim como o projeto da Toyota, o objetivo da VW é reduzir o atrito para melhorar a eficiência energética.
“Não estamos mais construindo carros para nossos clientes, mas sim com nossos clientes, e ao mesmo tempo iniciando um diálogo nacional que nos dá um insight profundo sobre as preferências, as necessidades e as exigências dos consumidores chineses”, disse Luca de Meo, diretor de marketing da marca alemã.
Mais autônomo
Então, onde está o carro voador que nos foi prometido pela ficção há tantas décadas? Bem, ele está aqui na forma do Terrafugia, apesar de ser um modelo caro e pouco prático.
Um dia, quem sabe, as estrelas vão se alinhar e permitir que um carro voador viável e elegante comece a ser produzido, abrindo caminho para um novo meio de transporte.
Ironicamente, no entanto, esse avanço pode custar o envolvimento do motorista: a autonomia combina mais com esse tipo de veículo.
Teríamos que tirar o controle da máquina das mãos do motorista. Seria algo realmente libertador?
*Peter Stevens é designer de carros e já trabalhou com marcas como McLaren, Lotus e Williams. Ele escreve mensalmente para a BBC Autos.
BBC Brasil
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