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sexta-feira, 15 novembro, 2024 11:30: am
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Na natureza, panda desafia fama de ‘casto e bonzinho’

Pandas têm intestinos de carnívoros mas conseguem digerir bambu

Talvez nenhum outro animal seja tão incompreendido quanto o urso panda (Ailuropoda melanoleuca). A percepção geral é a de que se trata de um bicho adorável e inofensivo. E que não tem nenhum interesse em sexo.

Mas na natureza, longe do cativeiro – e das manchetes do noticiário –, os pandas se comportam de uma maneira bem diferente do estereótipo que faz deles um dos animais mais queridos do mundo.

Em 1966, o zoólogo britânico Desmond Morris listou 20 fatores que explicam a obsessão humana com os pandas. Praticamente metade deles estavam relacionados à aparência do bicho: rosto achatado, olhos grandes, silhueta arredondada, semblante suave, cores contrastantes e outros aspectos.

Mas as aparências enganam. E chegar perto demais de um panda selvagem pode ser um grande erro.

Na realidade, até mesmo em cativeiro, onde os pandas estão acostumados aos paparicos humanos, eles podem ser perigosos. Em 2006, um rapaz de 28 anos, bêbado, entrou na jaula dos pandas no zoológico de Pequim, na China, e tentou afagar os animais. Recebeu em troca um ataque feroz que o deixou com a perna destroçada.

Mordida forte

Para estimular reprodução em cativeiro, pandas assistem a filmes de sexo

Ferimentos graves como esses são possíveis por causa do crânio incrivelmente sólido e da crista sagital robusta do animal. Essa parte do crânio serve como pivô para um músculo mandibular enorme, responsável por uma das mordidas mais fortes dadas por carnívoros.

O panda precisa dessa mordida intensa para conseguir romper a dura bainha de uma haste de bambu.

A espécie também apresenta um “falso polegar” – um osso sesamoide radial alargado –, que o ajuda a se pendurar melhor; uma complexa colônia de micróbios intestinais que facilitam sua digestão; e uma predisposição incrível para passar mais da metade de sua vida recolhendo, preparando e comendo bambu.

Com essas adaptações, o urso panda conseguiu realizar uma impressionante reviravolta evolucionária. Trata-se de um carnívoro que encontrou uma maneira de se alimentar de bambu, uma fonte segura e confiável que resiste à mudança das estações. E com outra vantagem: diferentemente das presas da maioria dos carnívoros, o bambu não tem o costume de fugir correndo.

‘Ménage à trois’

No período fértil da fêmea, o macho pode acasalar 48 vezes em três horas

Mas é em matéria de sexo que a reputação dos pandas em cativeiro é completamente diferente da realidade das espécies que vivem na natureza.

Os pandas têm um ciclo reprodutivo bastante peculiar, já que as fêmeas se tornam férteis apenas uma vez por ano, durante menos de dois dias.

Por causa disso, é fácil entender por que os pandas têm dificuldades de se reproduzir em cativeiro. O homem frequentemente intervém, testando incentivos como “pornografia panda” ou sondas retais que estimulam a ejaculação.

Nós, humanos, estudamos os pandas selvagens apenas desde 1980. Foi o lendário zoólogo americano George Schaller quem fez as primeiras observações do sexo entre pandas na natureza.

Em 1981, ele vinha seguindo uma fêmea chamada Zhen-Zhen e dois machos, um maior e um menor. “O macho pequeno se aproxima, gemendo, e é imediatamente atacado novamente. Eu só consigo ouvir rosnados, urros e gemidos, como uma matilha de cães brigando, e vejo o bambu se agitar violentamente”, descreveu ele no livro The Giant Pandas of Wolong.

O cientista então descobre que aquele ménage à trois (ou entre mais de três animais) é algo comum entre os pandas selvagens – uma combinação que seria difícil de replicar em qualquer zoológico.

Em pouco mais de três horas, Schaller registrou o macho maior acasalando com Zhen-Zhen pelo menos 48 vezes – cerca de uma vez a cada três minutos. Trata-se de mais sexo do que a maioria de nós faz em um ano!

A intensidade e a frequência do ato sexual pode explicar por que os pandas são muito mais produtivos na natureza do que em cativeiro.

Um longo estudo de pandas que foram rastreados nas montanhas de Qingling, na província de Shaanxi, revelou que as fêmeas dão à luz a cada dois anos e que 60% dos filhotes sobrevive por pelo menos um ano. “Levando em conta esse potencial reprodutivo, o urso panda é uma espécie evolutivamente bem-sucedida”, definiram os autores da pesquisa, o zoólogo Pan Wenshi e seus colegas, em 2004.

Portanto, se você ainda quer seguir acreditando no estereótipo da falta de interesse dos pandas pelo sexo, aqui está mais uma informação sobre este animal: a espécie está no planeta há cerca de 20 milhões de anos. E isso só pode significar uma coisa: eles gostam, sim, da atividade.

BBC Brasil

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