O imperador do Japão recebeu na sexta-feira o primeiro-ministro português e um dos temas abordados nos cerca de 40 minutos pelos quais se prolongou a audiência prevista para 20, foram a continuação da recuperação dos biombos nanban dos museus portugueses.
“Portugal tem colaborado com esse trabalho e iremos intensificar essa colaboração, tanto que houve desenvolvimentos nesse domínio, mais biombos foram encontrados com forte possibilidade de conter o mesmo sistema de utilizarem documentos antigos para a base de construção do próprio biombo”, contou aos jornalistas Passos Coelho, que terminou uma visita de três dias ao Japão neste sábado.
Trata-se de biombos que representam cenas dos portugueses no Japão, alguns têm também imagens de Goa, representando normalmente caravelas, homens vestidos com casacos gibão e calças ‘bombacha’ (largas e armadas, estilo balão), missionários jesuítas ou dominicanos.
“São como fotografias daquele tempo”, contou o embaixador de Portugal no Japão, Francisco Xavier Esteves, sobre os objetos dos séculos XVI e XVII, realizados por uma escola de pintura japonesa.
Além de fixarem esses instantâneos da época, estes biombos escondem outros tesouros, um pouco como “bonecas russas”, ilustrou o diplomata. “Abrem-se e têm mais histórias lá dentro”, disse.
E abrem-se literalmente, porque os biombos eram preenchidos com uma espécie de forro de papel para o qual os artistas da época, devido à raridade do papel, recorriam a material reciclado, ou seja, que já tinha sido usado em documentos oficiais, por exemplo.
Um dos biombos – calcula-se que existam entre 40 a 60 destes biombos em Portugal – estava no Museu Soares dos Reis, no Porto, veio para o Japão para ser aberto, analisado, os documentos extraídos e feitas cópias fac-simile para exposições.
Dentro desse biombo estavam cerca de 1200 documentos japoneses e uma carta para Portugal de Luís Froes, “uma personagem maior dos missionários jesuítas no Japão, que escreveu sobre a História do Japão e foi um dos primeiros autores de uma gramática japonesa”, contou o embaixador.
Os documentos são tão importantes quanto raros, já que o Japão possui pouca documentação preservada, devido à sua intensa atividade sísmica, um passado de construção de habitações em madeira e guerras particularmente devastadoras, como a II Guerra Mundial.
Os projetos das autoridades japonesas de recuperação destes documentos contidos nos biombos nanbam receberam na sexta-feira o apoio da autoridade máxima do Japão e o primeiro-ministro português comprometeu-se a colaborar com os objetivos de preservação da memória histórica japonesa.
“Terei ocasião no meu regresso a Lisboa de poder dar um impulso ainda maior à identificação e recuperação desses documentos, em contato com as autoridades japonesas. Trata-se de dar a maior facilidade possível a que todos os especialistas indicados pelo Governo japonês possam proceder com os cuidados à recuperação dos documentos”, declarou Passos Coelho.
Publico.pt
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