Marianna Leporace: Uma Intérprete de Primeira Grandeza. Marianna Leporace é uma intérprete da MPB com 9 CDs lançados, inclusive 2 no Japão e em 2010 lançou o décimo álbum Interior, pela gravadora Mills Records que foi pré-selecionado para o Prêmio da Música Brasileira 2012. Marianna nasceu e mora no Rio de Janeiro, é casada há 11 anos com Gilberto Figueiredo, coordenador da Escola de Música da Rocinha. Verbete do Dicionário Cravo Albim de Música Brasileira, Rio Bossa Nova do escritor Ruy Castro, em 2013 foi convidada pelo compositor Ricardo Brito para apresentar ao seu lado o programa de entrevistas Encontros, todas as quartas as 22 horas, recebendo convidados da MPB para entrevistas. O programa é transmitido pela Rádio Roquette Pinto.
Marianna, todo esse talento musical é herança de família?
Sim, Cleo. Venho de uma família extremamente musical pelos dois lados. Minha mãe, Virginia, vem de uma linhagem de músicos clássicos e tocava piano e meu pai, Sebastião, era um grande seresteiro, compositor, tinha uma linda voz. Sou a caçula de cinco irmãos, com uma grande diferença de idade pra eles e quando nasci, meus irmãos já davam os primeiros passos na vida musical. Dos cinco, três estão na música, eu, Gracinha e Fernando, mas os outros dois, Márcia e Zeca, não são músicos por escolha e não por falta de talento.
Além da música, você é atriz. Seu início foi cantando ou atuando?
Meu inicio de carreira foi no teatro. Eu achava que a musica já estava muito bem representada pela família. Tanto que paralelamente ao teatro entrei para a faculdade de jornalismo e me formei. Aliás, jornalismo também é uma influência familiar, era a profissão do meu pai e do meu tio Vicente Leporace, que foi um grande radialista em São Paulo. Durante a faculdade fiz alguns trabalhos, tive algumas bandas, mas só mesmo depois da minha formatura é que escolhi cantar profissionalmente.
Grande parte dos artistas, iniciaram sua trajetória participando de peças teatrais no colégio, cantando na noite, concursos e festivais. Como foi seu início na vida artística?
Comecei fazendo teatro no colégio e nessa época mesmo, Dilma Lóes me convidou para fazer um teste para a peça infantil “A Floresta do Luar Não Vai Acabar” de Phydias Barbosa. Passei e comecei a estrada. Logo depois entrei pra faculdade de jornalismo e fui fazer um curso de teatro na CAL (Casa de Artes de Laranjeiras). Durante a faculdade comecei a dar os primeiros passos na música, tive algumas bandas, cantava com Mauricio Gueiros (pianista e compositor) e meu irmão Fernando na noite, mas ainda tudo muito experimental. Só depois que me formei é que abracei a música profissionalmente.
Que trabalhos participou no teatro?
Todos musicais, muitos infantis. O primeiro trabalho foi “A Floresta do Luar Não Vai Acabar”, um espetáculo bem ecológico, animado, musical e muito divertido. Depois fiz “Se a Banana Prende o Mamão Solta”, com texto da Dilma Lóes e músicas de Fernando Leporace, meu irmão. Depois entrei na música e caminhei com as duas artes em paralelo. Participei de alguns projetos infantis bem bonitos da Karen Acioly, fiz algumas participações em projetos da Maria Lucia Priolli, e fiz um lindo musical chamado “Tu Pisas nos Astros, Distraído”, sobre a vida e a obra do compositor Orestes Barbosa.
Como foi participar do musical Tu Pisas nos Astros… Distraído?
Foi uma experiência encantadora! Tive a oportunidade de conhecer mais profundamente um dos compositores favoritos de meu pai, com quem conheci várias músicas que cantei no espetáculo. O convite veio do Moysés Aichenblat, um dos sócios do teatro Casa Grande, que fazia o Orestes. Era um musical pocket, só com dois personagens, o Orestes e a jornalista que o entrevistava e um violonista que na primeira montagem era o João Cantiber e na segunda o Marcelo de Marsillac. Um texto lindo e lírico do Clóvis Levy. Na verdade, ela entrevistava o espirito dele e assim os dois iam contando e cantando as histórias da vida do autor. Era muito bonito! A primeira montagem foi dirigida pelo Rafael Camargo e, na segunda vez que apresentamos, recebeu a direção do Bemvindo Sequeira. Bemvindo já havia substituido o Moysés por um mês na primeira montagem, me dando também a alegria de contracenar com ele.
Quais os festivais que participou?
Participei de algumas mostras de música bem interessantes, como o Festival Internacional Cantapueblo, de música vocal, o Tim Festival de Governador Valadares (Minas Gerais), Festival Internacional de Teatro de Curitiba (Paraná), o 1º Bossa Nova em Argentina, o 3º Mardelbossa em Mar del Plata (Argentina), Festival de Inverno do SESC – Rio de Janeiro, entre outros.
Uma pergunta que gosto de fazer sempre. Quais foram suas influências musicais?
A minha família em primeiro lugar, porque eu cresci ouvindo
meus irmãos e a música que eles produziam com o Grupo Manifesto, ou em outros projetos, meu pai cantando em casa, enfim, um processo natural. Depois todos os nomes da música popular brasileira pós bossa nova como Chico, Milton, Edu, João Bosco, Elis, Gal, Bethânia, os grupos vocais Quarteto em Cy, MPB4, e todos os outros. Mas depois veio o rock progressivo, a música pop americana e o jazz e a bossa nova. Tudo ao mesmo tempo.
Quando lançou seu primeiro CD?
Meu primeiro CD foi o “São Bonitas as Canções”, que fiz em duo com a pianista Sheila Zagury, com as parcerias para teatro de Edu Lobo e Chico Buarque e com as participações deles. Lançamos de forma totalmente independente no ano 2000 e em 2014 ele foi relançado pelo selo Mills Records, que abraça todos os meus projetos.
Marianna, você tem vários CDs gravados, entre eles algumas gravações com canções pop norte-americana. Como surgiu a oportunidade de fazer esse trabalho com musicas internacionais?
Foi interessante como esse projeto veio parar na minha vida. Eu estava no final da temporada do São Bonitas as Canções e Rodrigo Vidal, produtor dos CDs da série “Pop Acústico”, convidou o baixista Emerson Mardhine para participar das gravações e pediu uma indicação de cantora para o projeto. Emerson me consultou e acabou me convencendo de que seria um desafio interessante. Eu adoro esse repertório, adoro pop e rock, mas nunca tinha pensado em fazer um projeto de músicas nesse estilo. Aceitei a proposta e adorei a “brincadeira”, fizemos o primeiro e depois vieram mais dois.
Inclusive teve CDs que foram lançados no Japão. Como foi descoberta do outro lado do mundo?
Isso se deu, graças ao Pop Acústico, veja que interessante! Por causa deste projeto, conheci Tatiana Horácio, que trabalhava na Deck Disc, gravadora que lançou a série, e ela é a produtora executiva dos projetos de Kazuo Yoshida no Brasil. Yoshida é um produtor japonês apaixonado pela nossa música e vem ao Brasil todo ano gravar projetos com artistas brasileiros ou japoneses cantando em português. Tatiana me apresentou para ele em 2004 e desde então participo de seus projetos. O primeiro foi o CD/DVD “As Filhas da Bossa” que gravei ao lado das cantoras Ana Martins, Tatiana (que não é a Horácio) e Kay Lyra. Depois recebi o convite de Yoshida para fazer meu álbum “Marianna Leporace Canta Baden Powell” produzido por ele. De lá pra cá foram inúmeros projetos para o Japão. O Yoshida é sem dúvida, meu canal mais estreito de produção para o Japão, porém, muito antes dele aparecer na minha vida, eu tive a grande honra de participar do CD “Brazilian Breath” da flautista e saxofinista Daniela Spielmann, produzido por Atsushi Kosugi para o selo Aosis Records. Ou seja, o Japão estava mesmo na minha “linha da vida”, estava predestinado.
Conhece o Japão?
Pois é…não conheço…pode? Sou louca para ir cantar no Japão e conhecer esse belo país, mas ainda não apareceu a oportunidade. Aliás, quem sabe depois dessa entrevista? rsrs.
No CD Marianna Leporace Canta Baden Powell, você teve a participação dos filhos dele?
Sim, este CD foi muito feliz e pude realizar vários sonhos. Yoshida me apresentou uma proposta de repertório e eu dei umas opiniões e formatamos o projeto. Ele arregimentou os músicos de acordo com seu gosto pessoal que casava muito bem com as minhas sugestões e do Alain Pierre, que recebeu a direção musical do trabalho. Foi muito bacana todo o processo. Marcel Powell e Philippe Baden Powell chegaram através do Yoshida e do Alain, que já havia produzido o livro de partituras do Baden com eles. Eu os conheci na gravação do CD e ficamos amigos. Eles são músicos incríveis e deram muita força para o trabalho.
Nos seus CDs, teve participação de grandes nomes da MPB. Já participou do CD de algum deles?
Ainda não diretamente. Mas a faixa “Tororó” que eu e Sheila Zagury gravamos com Chico Buarque para o álbum São Bonitas as Canções, entrou no box “Essencial”, com três CDs e um DVD, produzido por Rodrigo Faour para a Sony/BMG.
É verdade que o CD Interior levou 12 anos para ser concluído?
Sim, é uma longa história! Mas foi um trabalho que me amadureceu muito como artista e produtora. O Interior, como disse o compositor Alexandre Lemos, não foi um CD, foi um processo. Processo de aprendizado no pensar e fazer música, meu de Emerson Mardhine e Paulo Brandão, os produtores e arranjadores. Foi um mergulho num projeto maturado em anos de trabalho, com muitas participações, muita pesquisa sonora. Esse trabalho seguiu paralelo a tudo que produzi. Lancei nove CDs enquanto preparava este! Não é incrível? Fiz recentemente este vídeo com as fotos das gravações deste projeto. Vale a pena para ver a passagem do tempo e quanta gente boa participou: https://www.youtube.com/watch?v=PWQK4F0bS_Y
No CD Interior, tem a música Vento Bravo, que tem uma certa importância na sua vida. Por que?
Porque é uma música que canto desde pequena, que me emociona, me passa uma energia melódica e poética muito forte. Sou fã incondicional da música do Edu Lobo de um modo geral e essa sempre me arrebatou. O casamento da música com a letra de Paulo Cesar Pinheiro é perfeito!
Além de ter uma carreira solo, você se apresenta em duo com a pianista Sheila Zagury. Como iniciou a parceria entre vocês?
Eu e Sheila nos conhecemos em 1992, no começo de tudo, no trabalho de Guilherme Hermolin, flautista e compositor. Guilherme me convidou para participar do seu CD, “Norte, Sul, Leste, Oeste”, com uma música belíssima, a única cantada de um lindo trabalho instrumental. Sheila era da banda do Guilherme e o show de lançamento do CD foi no Espaço Cultural Sergio Porto, aqui no Rio de Janeiro e foi lá que nos encontramos pela primeira vez. Rolou uma empatia imediata e desde esse dia, quando nos encontrávamos, nos prometíamos um trabalho juntas. A parceria aconteceu de fato em 1998, quando fomos ao sarau de aniversário de um amigo comum, o cantor belga Michel Tasky e lá ficamos horas no palco tocando e emendando canções, na maior sintonia. Não deu outra, naquele dia selamos nossa parceria eterna. Estreamos nosso show “São Bonitas as Canções” – as parcerias para teatro de Edu Lobo e Chico Buarque – em novembro de 1999. Ficamos um ano e meio maturando o trabalho, estreamos e depois de um ano rodando pelos palcos cariocas, veio o CD, em novembro de 2000. Nunca mais paramos de trabalhar juntas nesse e em diversos projeto.
E o trio vocal onde você se apresenta com as cantoras Cacala Carvalho e Eliane Tassis?
Eu sempre investi nas duas frentes de trabalho, a música vocal e a carreira solo. Sempre fui apaixonada por grupos vocais, harmonia vocal. O Grupo Manifesto, trabalho onde meus irmãos iniciaram a carreira, era um grupo vocal, meu irmão Fernando sempre curtiu essa praia também e me levou junto. Participei e participo de vários projetos vocais paralelamente à minha carreira solo. O Folia de 3, com Cacala e Eliane, surgiu quando cantávamos num quinteto chamado Maite-Tchu. Fomos a última formação feminina desse grupo, que tinha também mais dois cantores – Gladston Galizza e Antonio Guapiassu e arranjos de Fred Biasotto e Antonio Carlos Lobo. Sempre fomos amigas e sempre nos prometemos criar esse trio, mas desde o fim do grupo em 1998, levamos um bom tempo para conseguir nos encontrar para elaborar o trabalho, por conta dos projetos pessoais. Nosso primeiro CD veio em 2005, “Pessoa Rara”, em homenagem aos 60 anos do compositor Ivan Lins, que participou do disco e nos deu uma música inédita de presente. O trabalho recebeu também a direção artística de Claudio Lins, que também fez a seleção do repertório junto com a gente e elaborou o roteiro. Dez anos depois, estamos novamente investindo nesse projeto, comemorando os 60 anos de Ivan, que inclusive nos deu o enorme prazer de participar de nosso show comemorativo em junho, mês de seu aniversário, na Livraria Cultura aqui no Rio de Janeiro. Agora estamos preparando um CD novo, em homenagem ao letrista Marcio Borges, um dos principais nomes do movimento mineiro Clube da Esquina.
Você é uma artista versátil e está sempre em busca de novos horizontes, gostaria que falasse um pouco sobre a formação do grupo O Quinto e as pesquisas sobre músicas folclóricas. Esse grupo foi formado para resgatar a cultura de raiz que infelizmente, desconhecemos?
Eu sou mesmo inquieta e gosto muito de pesquisa, de novos desafios. Acho que essa “versatilidade” tem um pouco a ver com o teatro, com a criação de personagens, não sei ao certo. Nunca parei muito para pensar, minha vida foi um eterno “seguir fazendo” o que eu achava que me representava. Há quem diga que eu devia ter mais foco, mas acho que essa pluralidade, essa diversidade musical me define melhor. Falei isso para arrumar o pensamento e para dizer que, assim como o Pop Acústico, o trabalho do grupo O Quinto apareceu num momento de transição entre projetos e de vida mesmo. Eu queria muito algo novo, que me desafiasse e me tirasse do caminho que estava seguindo. E veio um convite inesperado do violonista e compositor Eduardo Camenietzki, para integrar um grupo que estava com uma turnê fechada, com 48 concertos, dois meses de viagem pelo Brasil de norte a sul, mas faltava uma cantora. Ele me disse que o projeto era de pesquisa da música de raiz da região sudeste do Brasil. Meus olhos brilharam e nem pestanejei! Isso era março de 2003, em julho estávamos embarcando para uma aventura inesquecível que mudou a minha vida para sempre! A partir dai eu nunca mais abandonei o gosto pela música de raíz, pela pesquisa, pela tradição oral e por conhecer os trabalhos de autores brasileiros que bebem nessa fonte. Acabei juntando alguns ingredientes apurados neste projeto e nas andanças pelo país ao “caldo” do Interior, criando uma ambiência ainda mais brasileira, mais enraizada pra ele. Aliás, o conceito do que seria o Interior apareceu pra mim depois dessa viagem.
Devo ressaltar a importância pra minha formação musical de meus companheiros de grupo, Eduardo, Gilberto Figueiredo, Alexandre Luiz e o grande Helio Sena, professor, musicólogo, pesquisador, com quem aprendi muitisssimo. Aliás, costumo dizer que Helio devia ser tombado como patrimônio histórico da humanidade, tamanha é sua sabedoria e conhecimento da musica universal! Cada concerto era uma aula pra mim e pra todos, artistas e plateia.
Quanto a sua segunda pergunta, eu diria que o projeto Sonora Brasil (http://www.sesc.com.br/portal/site/sonorabrasil/2015/) que fizemos através do SESC Nacional, tem essa missão, de resgatar e colocar um foco nessa música que praticamente não conhecemos. Vale uma visita neste site para conhecer melhor a proposta. É um projeto belíssimo, que existe há muitos anos e que só cresce a cada edição. Tenho muito orgulho por ter participado dele.
Suas habilidades são muitas, trabalhando em vários setores musicais. Cite alguns que você fez parte, inclusive a parceria com um compositor holandês entre outras.
Como falei ainda ha pouco, essa minha curiosidade, inquietude caminha também pelo lado das parcerias. Sou muito tribal, gosto de criar laços musicais afetivos que não dissolvo nunca. O Gijs Andriessen (pronuncia-se Réis) é na verdade o holandês mais brasileiro que conheço. Fomos apresentados pelo Claudio Nucci em 1992, também lá nos primórdios dos séculos, no início de tudo. Fiz vários shows com ele, cantando sua música super bonita e original, cheia de imagens, ao lado do Claudio e depois sozinha em diversas ocasiões. Mas essa minha necessidade de parcerias me levou a conduzir meus trabalhos também por esse viés. Assim nasceram os duos com Sheila Zagury, com o violonista Willians Pereira, com quem gravei o CD “A Canção, a Voz e o Violão” (trabalho que amo), agora com o pianista e compositor Alberto Rosenblit (acabamos de estrear esse duo!), minha eterna parceria com o compositor Alexandre Lemos, com quem gravei o CD “Lucidez”, meu trio vocal – Folia de 3 – com Cacala e Eliane e o recém-nascido sexteto OuroBa, voltado para a pesquisa de musica afro-luso-brasileira. Nesse grupo estou ao lado de Celia Vaz, Kika Tristão, Dalmo Medeiros, Symô e Vicente Nucci. Mas falando nessa essência “tribal”, nos meus projetos solo, com meus músicos, na verdade meus grandes amigos, também sou assim, estabeleci meus laços e meu time se mantém coeso em todos os projetos, com pequenas variações, de acordo com a demanda sonora de cada trabalho. Outra parceria que prezo muito foi a construída com Ricardo Brito, compositor, que tem um programa lindo na Rádio Roquette-Pinto, chamado “Encontros” e me chamou há dois anos para apresenta-lo com ele. Comecei assim a minha carreira de radialista, que também é uma veia importantíssima da minha família de comunicadores. Estou muito bem de parcerias!
Você grava trilhas para tv, cinema e teatro, gravou para a minissérie Dercy de Verdade e a peça Salve Jorge Fernando, assim como outros trabalhos de grande importância?
Passei mais de dez anos da minha vida artística trabalhando em estúdios, gravando tudo o que você puder imaginar: jingles, trilhas para TV, teatro e cinema, dublagens cantadas de desenhos animados (meu trabalho favorito em estúdio!), enfim, foi uma longa trajetória e muitos trabalhos legais. Destaco também a trilha das três primeiras temporadas do desenho animado “Clube das Winx”, a trilha do anime “Corrector Yui”, a abertura do desenho “Hamtaro”, a trilha original de Memorial de Maria Moura e Engraçadinha (ambas da Rede Globo), o jingle da Geleia de Mocotó Imbasa, de Felipe Radicetti (mais um parceiro musical de peso) e o longa “Todos os Cães Merecem o Céu 2”, onde fiz a voz cantada da cachorrinha Sacha.
Sua agenda de shows é cheia e é dona de uma produtora. Como consegue conciliar tudo?
Há tempo pra tudo, a agenda é cheia, felizmente, mas adoraria que fosse muito mais (risos). Eu tenho uma super sócia que é “uma mãe” e que me ajuda muito em tudo que é a Sandra De Paoli, responsável pela minha carreira e por meus projetos. Somos sócias da Zênitha Produções onde cumpro mais um papel de elaboração de projetos, divulgação e curadoria. Ela além de tudo que eu faço também bota a mão na massa da produção executiva, é muito mais competente que eu!!!
Em 2013, você produziu o show SAMBA EM FAMÍLIA, com sambas inéditos que eram criações da sua família. Você vai transforma-lo em CD?
Sim, esse será meu próximo projeto de CD. O show já existe, deu super certo, fiz vários e agora parei um pouco para cuidar de outros projetos, mas a ideia é transforma-lo num CD, bem autoral, com sambas do meu pai, do meu irmão, meus e de amigos da minha tribo.
Falando em família, sua irmã é casada com o produtor e compositor Sergio Mendes?
Sim, há muitos anos! E segue cantando com ele em sua banda. Eles estiveram se apresentando no Rock in Rio em setembro “Foi um show bem bonito, com a participação do Carlinhos Brown, e eu estava lá, feliz, conferindo de perto”
Hoje em dia com a internet dispondo de tantas vantagens, entre elas o acesso as músicas, isso atrapalha o artista?
Discussão bem ampla e boa. Eu digo que estamos no meio do olho do furacão. Nunca houve tantas formas do artista independente divulgar seus trabalhos, nunca foi tão democrático. O mercado hoje é muito segmentado e a coisa está bem artesanal, os artistas assim que produzem, já mostram pro seu público, através das redes sociais, se comunicam direta e abertamente com seus fãs, enfim, acho que é mais “do produtor ao consumidor” sem escalas. O caminho entre o artista e público se estreitou. Artista que não sabe produzir, que fica em casa esperando o telefone tocar sofre muito nos dias de hoje. Acho que nem existem mais, sucumbiram ao novo mercado. Não sei avaliar ainda para onde iremos, mas as formas de produzir e fazer música mudaram muito, seguramente. Há vantagens (muitas) e desvantagens se levarmos em conta os antigos formatos, mas pras novas gerações só vejo benefícios, elas sabem lidar com esse mercado muito melhor que a minha geração, por exemplo, que teve que se virar bastante nessa transição. Não estamos fazendo feio, mas ralamos bem mais que eles pra nos adaptar. Eu sou da geração que ficou no meio do caminho, nem se beneficiou do mercado antigo, do maistream e nem nasceu com um “chip no cérebro”. Eu sou apegada ao CD, por exemplo, acredito que um disco, é o extrato de uma ideia, de um todo que o artista quer mostrar naquele momento, mas sei que isso é muito relativo e que esse formato está com os dias contados (dizem, não sei se é verdade). Enfim, tivemos que correr atrás, mas acho que já estamos chegamos bem junto. É muita gente fazendo música, é muita gente chegando todos os dias. Temos que inventar novos mercados, não tem jeito. Se atrapalha? Não sei avaliar, tudo muda o tempo todo, temos que nos atualizar e ficar de olho nas novas formas de “estar no mercado”.
A internet favorece o artista de ter seu trabalho conhecido, já que a mídia não da esse espaço?
Seguramente. Sem a internet muita gente não sobreviveria. A internet ampliou as possibilidades de distribuição, produção, divulgação. Devemos muito a ela!
Na sua opinião o publico em geral está mais acostumado as musicas comerciais do que as de qualidade?
Sim, por vicio e preguiça. Porque ainda é apegado ao que ouve nas rádios comercias e aqui no Brasil, nas novelas, que são um dos maiores canais de divulgação de músicas. Ainda tem dificuldade de pesquisar, de abrir os ouvidos, os canais para coisas novas. Não só o público, mas os contratantes de um modo geral, querem sempre mais do mesmo. Esse é um problema cultural, eu acho. A verdade falta um investimento maciço em formação de novas plateias e há muito tempo a música é associada ao entretenimento rápido, ao fundo musical em barzinhos para se comer, beber e conversar. Ou aos grandes palcos, com shows grandes, grandes investimentos. É esse “caminho do meio”, que precisamos ampliar.
Isso é culpa da cultura do país ou da mídia que manipula as massas?
Ambas. Da falta de uma politica de cultura eficiente de fato e anos de monopólio da indústria da música que compra os espaços de comunicação para seus artistas figurarem absolutos, o que chamamos de “jabá”. Anos de investimento em arte comercial, em detrimento das manifestações artísticas mais culturais, enfim, são muitos problemas. Mas acho que há um mercado incrível para quem quiser conhecer outras coisas. A internet está recheada de boas opções e se as pessoas se abrirem para o novo conhecerão lindezas que são produzidas todos os dias de norte a sul nesse país. Sou muito fã da nossa música e dos artistas brasileiros!
Como pode uma artista com tantos talentos não ser conhecida na mídia?
Muito obrigada, antes de mais nada. Mas por todos esses motivos que falei, não só eu, mas 95% da produção nacional sofre desse mal. Acho que a mídia até conhece a gente, sabe que existe esse mercado rico, amplo, extenso, mas não se interessa e não deixa o trabalho chegar ao público. Falo da mídia formal, dos grandes veículos de comunicação. Só que a gente não pode se acomodar, não pode jogar a toalha, tem que ter um norte todos os dias e se recriar, inventar novos projetos, novos mercados, novas possibilidades, formar nosso público, fazer nosso trabalho da melhor maneira. É isso que procuro fazer porque acredito que movimento gera movimento e assim sigo minha trilha. Meu trabalho está ai, muitos CDs, todos na internet, muitas parcerias, muita estrada da qual me orgulho bastante.
Você não para e vive criando. Algum projeto em estudo?
Sempre!!! Muitos, vários na gaveta, vários na cabeça, fico até cansada de tantas ideias que me assaltam todos os dias. E só agradeço a Deus todos os dias por ter uma mente fértil e cheia de projetos. Muitos consegui realizar, muitos ficaram pelo caminho e muitos ainda virão. De concreto no momento, meu CD de sambas, o DVD do projeto “Interior”, o novo CD do Folia de 3, o CD do OuroBa e outros projetos em CD que se configuram e ai conto mais pra frente.
Terminamos por aqui. Obrigada Marianna Leporace.
Muito obrigada Cleo, pela oportunidade!
Da Redação by Cleo Oshiro
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